quinta-feira, 4 de julho de 2013

Geofísica e barragens


País rico em recursos hídricos, o Brasil tem 77% de sua matriz elétrica proveniente de fontes hídricas. O know-how para a construção de barragens é uma vantagem comparativa da engenharia brasileira que há décadas vem se aperfeiçoando nessa atividade. A Geofísica, mais precisamente o ramo da Sismologia, tem alguma participação nessa área.
Em episódio recente ocorrido (em 28 de maio de 2009) no município de Cocal (PI), pelo menos quatro pessoas morreram e centenas de famílias ficaram desabrigadas após o rompimento da Barragem de Algodões I. Mobilizado por este triste evento, Geofísica Brasil pesquisou e descobriu que não há legislação brasileira específica sobre aspectos relacionados com segurança de barragens.
Apenas grandes barragens podem provocar abalos sísmicos, fato que ocorre raramente. Para o sismólogo e pesquisador do IAG/USP, Marcelo Assumpção, tremores de terra só são considerados importantes em barragens grandes, ou seja, com mais de 50 metros de altura. Não é esse o caso da barragem que rompeu no Piauí, onde o problema foi de erosão das encostas causado, segundo ele, por excesso de chuva. Neste caso, para Assumpção, o que pode ter faltado seriam estudos de Geotecnia, isto é, a caracterização das propriedades mecânicas do solo e das rochas na área da barragem.
“Neste tema, a Geofísica Rasa é muito importante. Em locais de obras de barragem, é comum haver levantamentos de sísmica rasa para auxiliar nas medidas geotécnicas. No caso especifico de Cocal, uma estação sismográfica não teria adiantado nada”, salientou Assumpção.
O especialista da Agência Nacional de Águas, engenheiro Rogério Menescal, acrescenta que a ruptura da barragem de Algodões I foi provocada por uma erosão regressiva no vertedouro, que atingiu o maciço principal. “Portanto, neste caso, as observações sismográficas não poderiam contribuir para evitar a tragédia”, referendou o engenheiro.
Assumpção acrescenta ainda que para realizar estudos de sismicidade local em grandes barragens, o ideal é instalar uma estação sismográfica a uma distância máxima de até 10 quilômetros da parte mais profunda da represa.
Não há, segundo os especialistas ouvidos pelo Geofísica Brasil, uma norma estabelecida para segurança de barragens no país. Normalmente, o IBAMA costuma exigir a instalação de uma estação sismográfica perto da barragem. Mas, segundo Assumpção, isso não aumenta a segurança - apenas facilita estudos e pesquisas no caso (raro) de ocorrerem tremores.
Por sua vez, o diretor do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília, George Sand França, acredita que as normas envolvendo a construção de barragens devem sair do papel ainda este ano. Segundo ele, antes da construção de barragens devem ser efetuados estudos geoestruturais.
“O estudo geotectônico é bem direcionado para estruturas civis, mas os estudos de geofísica rasa e microssismicidade podem auxiliar aos engenheiros geotectônicos nessa matéria”, avaliou o sismólogo, que está trabalhando atualmente com esse tema, a fim de identificar possíveis regiões que podem sofrer problemas futuros ou que vem sofrendo danos estruturais devido à sismicidade. George informou ainda que foi criado um grupo de pesquisa para estudar a sismicidade induzida e natural do qual fazem parte engenheiros, geólogos, geofísicos e sismólogos.

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