quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Tafonomia de Vertebrados - Morte

Morte

Para que se iniciem os processos tafonômicos, é necessário que haja a morte do organismo.
Há muitas maneiras de morrer e intimamente relacionados a estas maneiras está o tipo de concentração resultante, portanto, sempre que possível, o estudo da mortalidade deve ser efetuado, já que muitas vezes há relação entre o evento que matou e soterrou determinado organismo. A análise tafonômica pode fornecer pistas sobre a causa mortis.

Tipos de Morte

Existem dois tipos básicos de morte na Natureza, chamadas de morte seletiva ou de morte não-seletiva (ou catastrófica). A morte seletiva afeta determinadas faixas de idade da população e é causada por fatores como envelhecimento, doença e predação. De um modo geral, este tipo de morte afeta principalmente os organismos mais jovens e mais velhos, pois estão mais vulneráveis a estes fatores.
Por outro lado, a morte não-seletiva atinge grande parte da população, indistintamente. Isto ocorre quando há eventos de maior magnitude, como enchentes, tempestades ou grandes secas. Neste caso, todos os indivíduos da população são atingidos, não existindo nenhuma preferência por classes de idade.
Holz & Simões (2002) dizem que quando uma população passa por eventos de morte seletiva, a tanatocenose (def) apresentará duas classes dominantes de idade, resultando numa bimodalidade, enquanto que quando ocorre um evento de morte não-seletiva, a tanatocenose resultante será bastante parecida com a distribuição de idades da população original, portanto, não ocorrerá esta bimodalidade.

Relação do tipo de morte e da estrutura populacional. Observe a bimodalidade que ocorre quando há um evento de morte seletiva. Quando ocorre uma morte catastrófica, a tanatocenose resultante é praticamente um espelho da biocenose original (modificado de Simões e Holz, 2002).

A causa de morte

Com base na concentração biogênica da tanatocenose, podemos ter uma idéia do TIPO DE MORTE, mas este resultado não nos revela a CAUSA DE MORTE. Essa é uma questão bastante difícil de responder, já que muitas vezes a resposta não está só no indivíduo, mas também no ambiente deposicional onde ele foi encontrado.
Com relação ao indivíduo, as principais causas de morte podem ser: doença (observar patologias nos ossos), predação (observar marcas de dentes) e acidentes (quedas em fendas, em poços de piche ou outras armadilhas naturais, além de enchentes gigantescas e secas prolongadas).
Desta maneira, quando a análise estatística dos restos esqueletais indicar o padrão de bimodalidade, ou seja, um tipo de morte seletiva, o paleontólogo deverá buscar as respostas nos próprios materiais de estudo, diferentemente do que acontece quando se tem uma indicação estatística de que houve uma morte do tipo não-seletiva (catastrófica), já que a maior parte destes indícios são revelados nas rochas onde se encontram os depósitos.
Sempre se deve ter em mente que o registro sedimentar é dominantemente episódico, ou seja, apenas os grandes eventos (enchentes, tempestades, etc) deixam seu registro. Os vertebrados são encontrados principalmente em depósitos continentais, como os associados aos sistemas fluviais. No dia-a-dia, as taxas de erosão e de deposição de sedimentos são muito baixas e isto não fica registrado. Quando ocorrem grandes enchentes, aumenta a capacidade de carga de um rio (capacidade de transporte de sedimentos) e o rio extravasa, levando grande parte destes sedimentos para suas margens. Estes eventos ficarão registrados como camadas de sedimentos finos na planície de inundação e é durante estes eventos que a biota é soterrada e preservada, ou ainda, é nestes eventos que os organismos morrem e são preservados, gerando assim uma assembléia fossilífera gerada por morte não-seletiva (catastrófica).

Rio meandrante, um dos tipos de sistemas fluviais conhecidos. Os fósseis são encontrados nos ambientes de planície de inundação, barras em pontal e no canal principal.
Em sistemas marinhos também ocorrem ambos os tipos de morte. Na plataforma marinha, em condições normais, uma fauna bentônica se desenvolve em sucessivos ciclos de vida, sem ser afetada por nenhum grande evento de sedimentação. Neste caso, os animais que morrem de uma forma não-seletiva ficam distribuídos na plataforma, associados aos animais ali viventes. Quando uma grande tempestade ocorre sobre o mar, o fundo marinho também é remexido e os animais bentônicos ali viventes são exumados e misturados àqueles que já estavam mortos. Animais nectônicos também podem ser afetados. Quando a tempestade diminui, tanto os restos de animais recém mortos quanto os dos que já estavam mortos anteriormente são depositados juntos, resultando também em uma morte catastrófica.
Um exemplo de morte catastrófica que pode ser citado em ambiente marinho é a concentração de Mesossauros (répteis aquáticos já extintos) encontrados em sedimentos de idade Permiana (de 290 a 245 Ma) localizados em afloramentos da Bacia do Paraná (SP, PR, SC e RS). Estes fósseis, que abrangem restos esqueletais de diferentes classes de idade, foram encontrados em tempestitos, rochas cujas características indicam eventos de tempestade. Portanto, a associação entre a informação que os fósseis nos dão e que a rocha nos dá é de suma importância quando se precisa identificar a causa da morte.

Os Mesossauros morreram e foram preservados de diferentes maneiras, devido a eventos de tempestades (modificado de Soares, 2003).
O que observamos, deste modo, é que a análise do tipo de mortalidade e do evento deposicional fornece importantes pistas sobre as condições ambientais sob as quais uma determinada fauna vivia, o que enriquece as reconstituições sobre hábitos de vida e habitats dos organismos que o paleontólogo está estudando.

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