quinta-feira, 17 de outubro de 2013

DICAS PARA ELABORAÇÃO DE CADERNETA DE CAMPO


A caderneta de campo é uma ferramenta essencial às interpretações realizadas em etapas 'sin-' e 'pós-campo'. Ao se preparar uma caderneta, deve-se sempre ter em mente que ela é feita para auxiliar não só você, que a elaborou, mas também outros pesquisadores. Sendo assim, a caderneta deve ser escrita com letra legível e de modo bastante claro.

Algumas observações são importantes e devem ser lembradas durante a elaboração de uma caderneta de campo:

I. Preparando a caderneta para o campo

a. Para escrever na caderneta, dê preferência a lápis grafite ou caneta com tinta resistente à água
b. Antes de tudo, escreva seu nome, endereço, nome do projeto, ano e número da caderneta (caso o projeto necessite) na capa
c. Numere as páginas de forma sequencial
d. Reserve as primeiras folhas para elaboração de um índice, que fará menção do conteúdo às datas e ao número das páginas
e. Coloque como anexo, nas últimas folhas, fotocópias de tabelas, gráficos, figuras e outras informações que lhes serão úteis em campo. Algumas cadernetas geológicas já possuem esse anexos. Entretanto, não se acanhe em acrescentar informações extras que considere importantes. Em geral, tais informações dependerão dos objetivos do projeto: mapeamento geológico de terrenos cristalinos, mapeamento geológico de terrenos sedimentares, prospecção mineral, metalogenia, etc.

II. Em campo

a. Comece as anotações de cada dia em uma nova página, anotando sempre: data e dia da semana, as condições do tempo (se estas forem excepcionais, tais como nevasca, chuva intensa, nevoeiro, etc.), o planejamento do dia (perfil a ser levantado ou follow-up de anomalias), a hora e quilometragem da saída (carro), o veículo usado (terrestre, aquático ou aéreo), as condições de acesso e a equipe participante, inclusive o nome dos auxiliares locais. Destes últimos, é sempre bom ter o contato (endereço e fone) anotado ao final da caderneta. Eles podem ser muito úteis para trabalhos futuros

b. Estabeleça previamente um esquema de numeração dos afloramentos, o qual possa ser continuado em etapas posteriores de campo. Dica: utilize iniciais (do projeto e de seu nome) mais o número sequencial, como por exemplo: FN-JS-001 (afloramento 001 do geólogo João da Silva do Projeto Ferro Nordeste)

c. O uso de abreviações para descrever termos geológicos (rochas, minerais, estruturas, etc.) é interessante e útil. No entanto, sempre que as fizer, procure seguir um padrão de abreviações amplamente aceito. E, mesmo assim, liste ao final da caderneta as abreviações que foram utilizadas com suas palavras correspondentes

III. Descrevendo o afloramento

a. Comece com a identificação e localização, onde serão anotados:

i. Coordenadas e datum (caso utilize coordenadas UTM, não se esquecer de colocar a zona e hemisfério);
ii. Altitude do ponto;
iii. Localização detalhada: estrada, km, fazenda, rio, etc.;
iv. Tipo do afloramento: corte de estrada, lajedo, escarpa, leito de rio, sangradouro de açude, etc. Mencione as dimensões aproximadas do afloramento;

b. Aspectos fisiográficos: descreva de forma sucinta o tipo de relevo, de vegetação e de solo

c. Geologia: descreva, inicialmente, o afloramento à distância e depois em detalhe

i. À distância: descreva as principais estruturas (acamamento, falhas, juntas, contatos, presença de veios e/ou diques, etc.) e os litotipos presentes. Neste ponto, cabe muito bem a confecção de um desenho esquemático com indicação e descrição das feições mais importantes do afloramento;
ii. Em detalhe, descreva todos os litotipos presentes quanto a: mineralogia, textura, fábrica, grau de intemperismo (fraco, médio ou alto), estruturas planares e lineares;
iii. Caso o afloramento contenha ocorrência mineral, é essencial citar: o mineral ou rocha de interesse, teor desse mineral em relação à zona mineralizada (e quando possível, estimar o teor do elemento de interesse, por exemplo, BIF com 50% de Fe), dimensões da zona mineralizada (comprimento x largura x espessura, sempre nesta ordem), tipo de encaixante, tipo de alteração na encaixante (sulfetação, sericitização, biotitização, epidotização, cloritização, carbonatação etc.), as dimensões da zona de alteração, medidas estruturais (foliação, lineação, fraturas, etc.) da encaixante e da zona mineralizada, extensão da zona de afloramento ou da zona de blocos mineralizados e tamanho dos blocos. Por fim, estime o potencial do corpo mineralizado: comprimento (m) x largura (m) x espessura (m) x teor (%) = tonelagem do depósito;
iv. Medidas que podem ser levantadas: foliações (S0, S1, S2,..., Sn), lineações (eixo de dobra, estiramento mineral, fluxo magmático, orientação de minerais em veios, etc.), fraturas (falhas e juntas), atitudes de veios e diques. Tentar definir a orientação dos eixos de tensão de cada evento deformacional (elipsóide de tensão);

d. Amostragem: anote o tipo (grab, chip, canal, etc.), a quantidade coletada, de que parte da(s) rocha(s) foi coletada, a finalidade (química, geocronologia, micropetrografia, etc.) e o nome (idêntico ao que foi escrito na etiqueta) da amostra. De preferência, faça amostragem orientada

e. Ilustrações: desenhe apenas as feições principais, tais como contatos, estruturas notáveis e litótipos. Oriente e coloque escalas gráficas (vertical e horizontal). Quando houver mineralizações no alforamento, indique na ilustração

f. Fotos: fotografe o afloramento como um todo e, depois, em detalhe. Utilize a função 'macro' para close-up (como por exemplo o de ocorrências minerais). Use escala adequada: cartão, caneta ou moeda para pequenas feições; martelo para feições de tamanho médio; e, pessoas ou automóveis para feições de grande porte. Procure sempre, orientar suas fotos, com indicação do norte. Anote o tema fotografado, com o número da foto, no afloramento correspondente na caderneta.

Essas são apenas sugestões que podem ser adaptadas de acordo com a necessidade de cada projeto.

Bom campo!

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