Uma semana depois do anúncio da descoberta de petróleo na costa de Moçambique, técnicos, economistas e pesquisadores aguardam mais informações para avaliar melhor o impacto que a notícia pode trazer ao país.
O Ministério dos Recursos Minerais confirmou no último dia 17 que a empresa americana Anadarko Petroleum Corporation detectou a existência de hidrocarbonetos na bacia do Rio Rovuma.
Segundo a ministra Esperança Bias, ainda não foi apurado se a descoberta tem viabilidade comercial. A expectativa é de que os estudos complementares fiquem prontos ainda neste ano.
O engenheiro petroquímico moçambicano Inácio Bento ficará surpreso se a reserva não for comercialmente viável. Há alguns anos já se tem a informação da presença de gás na região.
Se os estudos continuaram, diz ele, é porque a probabilidade de extração comercial de petróleo é grande. Mas ele lembra que a vizinha África do Sul já passou pela decepção de encontrar petróleo e não conseguir explorá-lo.
Levar esse petróleo do mar para a terra requer investimentos extraordinários. Se o petróleo for pouco, não vale a pena, explicou o engenheiro.
O óleo está a mais de 5 mil metros de profundidade, equivalente à da camada do pré-sal na costa brasileira. Foi localizado a 30 quilômetros (km) da costa do Oceano Índico, na província de Cabo Delgado, que faz divisa com a Tanzânia.
A descoberta ocorreu na terceira perfuração feita pela empresa. No primeiro furo foi detectada, em maio, a presença de gás natural. Mais seis perfurações ainda devem ser feitas.
A Anadarko Petroleum Corporation atua em Moçambique desde 2006 e já investiu US$ 300 milhões nas operações de prospecção.
Para o economista Carlos Nuno Castel-Branco, a estimativa é de que as reservas, se comerciais, podem gerar entre U$ 300 e 360 bilhões.
Em entrevista ao jornal O País, indagou quanto aos custos de prospecção, exploração e recuperação do meio ambiente.
Sem esses levantamentos, disse ele, pouco se pode avaliar sobre os impactos na economia.
Impactos que não se restringem aos campos econômico e ecológico. Em Angola, foi quase que devastador lembrou a chefe do Departamento de Sociologia da Universidade Eduardo Mondlane, a brasileira Nair Teles.
Segundo ela, as consequências sociais e econômicas da descoberta de grandes reservas no início deste século em Angola foram muito violentas.
Angola hoje só perde para a Nigéria em produção de petróleo na África. O óleo responde por 90% das receitas de exportação. Mas a indústria petrolífera emprega somente 1% da mão de obra do país.
Cerca de 60% da população ainda dependem da agricultura de subsistência.
Os ganhos do petróleo atraíram investidores, mas transformaram Luanda, capital angolana, em uma das cidades mais caras do mundo.
Como a guerra civil acabou há menos de 10 anos, as ofertas habitacionais e a infraestrutura ainda são restritas, o que eleva demais os custos de aluguel no centro e nos bairros próximos.
Para reduzir o déficit habitacional, o governo de Angola lançou no ano passado um projeto para construir um milhão de casas até 2012.
Um termômetro do interesse crescente na região é o fluxo de imigrantes portugueses. Colônia lusitana até 1975, Angola sempre exportou mão de obra para Lisboa. Há três anos, o fluxo se inverteu.
Já há quase três vezes mais portugueses vivendo em Angola (100 mil oficialmente) do que angolanos morando legalmente em Portugal (34 mil).
Nair Teles diz que Moçambique é diferente de Angola, mas os efeitos vividos lá servem de parâmetro para os problemas que podem surgir no país dela.
Acredito ser importante que, desde já, se pense em que tipo de desenvolvimento esse petróleo vai trazer e a quem vai beneficiar.
Ela sugeriu que a sociedade seja envolvida nas discussões sobre o dinheiro do petróleo.
É preciso esclarecer que o país não vai ficar rico no dia seguinte, nem que o nível econômico e social vai mudar de uma hora para outra.