domingo, 13 de outubro de 2013

Coordenador do Criosfera alerta sobre mudanças climáticas


O mês de setembro reforçou a tese dos pesquisadores das mudanças climáticas, de que em menos de 100 anos o aquecimento global modificará o ambiente planetário. Duas entidades internacionais divulgaram diagnósticos neste mês que apontam para tal entendimento, segundo o coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) da Criosfera, Jefferson Simões. O Centro Nacional de Neve e Gelo (NSIDC), dos Estados Unidos, e o Painel Intergovernamental para Mudanças do Clima, da Organização das Nações Unidas (IPCC/ONU), ambas as siglas no idioma inglês.
De acordo com dados do centro, no dia 13 de setembro de 2013, a extensão do gelo marinho no Oceano Ártico foi contabilizada com 5,10 milhões de km2. "Esta é a extensão mínima do ano. Se compararmos com o mínimo do ano passado de 3,2 milhões de km2, essa medição corresponde a um aumento de quase 60%, porém, foi a sexta menor área de gelo marinho nos últimos 34 anos", explica Simões, especialista dos temas polares.
Para compreender este processo sazonal é importante conhecer ocicio climático da região. A extensão do gelo no Oceano Ártico aumenta a cada inverno e diminui a cada verão, por conta da variação no aporte da radiação proporcionada pelo Sol. Considerando este fator, todos os anos a cobertura registra seu ponto mínimo em setembro, pouco depois do período mais quente do ano, oque é um fenômeno natural, mas os baixos índices médios registrados nos últimos anos são inéditos.
nsidc-neve-mar-articoRatificando a afirmação anterior sobre o impacto do aquecimento global no Ártico, o coordenador do INCT Criosfera lembra que no dia 27 de setembro, o painel da ONU divulgou a estimativa de que o planeta sofrerá um aumento da temperatura média global de no mínimo 1,5 graus Celsius até o final do século. "Este aumento não será homogêneo e na região do Ártico poderá facilmente ultrapassar 3°C", pondera.
Ele explica que a diminuição da cobertura de gelo do Oceano Ártico decorre do aumento da temperatura atmosférica. "Independente da origem, o que sabemos e é o mais importante, é que não temos registro desse fenômeno nos últimos 500 anos e aumentando a temperatura é provável que não tenhamos mais gelo marinho no verão polar até 2040", alerta.
O aquecimento da atmosfera acima do Ártico é um dos mais rápidos no mundo. Com o aumento da temperatura, o gelo do mar derreterá e mais energia solar será absorvida pelas águas do oceano. Uma área coberta de neve e gelo reflete 80% da energia recebida do sol, se eles desaparecerem o mar refletirá somente 20% desta energia.
"Além disso, o gelo marinho é um bom isolante térmico, pois não permite a troca de energia entre o oceano e a atmosfera. Removendo o gelo marinho essa troca de energia torna-se mais eficiente e, conseqüentemente, continuará propiciando a elevação da temperatura da região e mudará o padrão das correntes oceânicas superficiais árticas", destaca Simões.
Ainda é difícil prever quais as conseqüências do fenômeno na escala global, mas para a biodiversidade a previsão é negativa. "A teia alimentar ártica, basicamente marinha, é modificada com o desaparecimento do mar congelado. Corta rotas de migração de mamíferos que vivem na superfície e muda o aporte de radiação na camada superficial do oceano, afetando a produtividade de microorganismos, base da teia alimentar. A floresta boral já mostra os primeiros sinais de expansão para o Norte, avançando sobre o bioma Tundra", descreve.
"Não devemos esquecer também o impacto dessas rápidas modificações para as comunidades autóctones, como os Inuits conhecidos popularmente por esquimós, que tem seu modo de vida baseado na caca e pesca ártica", lembra.

Ártico

A medição no gelo marinho do Ártico é referência para as mudanças climáticas mundiais, por ser um controle pioneiro e por ter continentes no seu entorno, o que aumenta a influência das ações humanas na região. Embora pareça isolado do restante do mundo, o oceano que rodeia o Polo Norte geográfico afeta todo oplaneta.
As mudanças climáticas que lá estão mais evidentes podem já no curto prazo, acentuar eventos climáticos extremos como secas e chuvas fortes. "Essa rápida redução do gelo marinho ártico surpreendeu a comunidade científica, pois as previsões indicavam que tal redução só ocorreria em algumas décadas", observou.
O grupo coordenado por Simões pretende elevar a quantidade dos projetos de pesquisa neste ambiente. "No Ártico, por enquanto, só monitoramos a situação do gelo marinho no INCT. Existe a intenção de fazer a primeira expedição cientifica nacional ao ártico no verão de 2016/2017. Ainda não definimos para qual parte do território iremos, mas as pesquisas serão relacionadas à investigação de testemunhos de gelo, que provêem o melhor registro da história climática existente", opina.

Geopolítica

A redução da área coberta por mar congelado começa a permitir a navegação através de uma passagem entre a Europa e a Ásia, via Norte da Sibéria. Essa seria a passagem do Nordeste, tão sonhada desde a época dos Grandes Descobrimentos, pois reduziria a rota marítima em milhares de quilômetros e facilitaria a exploração dos recursos minerais na Sibéria.
"Em particular, facilita a exploração de recursos como o óleo e o gás na costa e plataforma continental norte-americana e siberiana", enfatiza Simões. "Esse, inclusive, é o motivo básico das diferentes ações russas ao longo dos últimos anos, para reforçar sua soberania no alto ártico, inclusive para estender sua plataforma continental conforme permite a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar", finaliza.

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