domingo, 17 de novembro de 2013

Fraturamento de reservatórios carbonáticos centraliza debate



A Associação Europeia de Geociências e Engenharia (EAGE), em parceria com a SBGf (Sociedade Brasileira de Geofísica), promoveu no Rio de Janeiro, o workshop "Fraturas em reservatórios convencionais e não convencionais". A reportagem do Geofísica Brasil não teve acesso ao recinto do encontro, mas, por e-mail, o pesquisador britânico Patrick Corbett (Hariot Watt University), co-chairman do evento concedeu esta entrevista.
O objetivo de unir academia e indústria numa discussão de alto nível em um workshop sobre reservatórios fraturados foi atingido? Porque?


O workshop teve a participação de 70 pessoas de operadoras, companhias de serviço e academia, sendo aproximadamente um terço de cada. Para um pequeno grupo de especialistas este é um equilíbrio certo com a maioria dos presentes tendo experiência prática em reservatórios fraturados. Parece que há pouca expertise nesta área no Brasil e, na que existe – como a rede de pesquisa da Petrobras – o segmento foi bem representado.
Informe alguns itens das apresentações que merecem ser destacados?


Muitas das crenças fundamentais da indústria foram questionadas:
Fraturas têm origem em uma falha de grande ângulo– mas somente para camadas (Lewis, HWU)
O uso da curvatura é bom? – Ok para sistemas de camadas mais finas (Couples, HWU)
A fratura tem sempre porosidade baixa (1-2%)? – Em geral, sim, mas nem sempre. (Quenes, Sigma3)
O modelo fractal é bom? Tem escalas de comprimento, camadas e a estratigrafia mecânica é importante (Couples, HWU; Riva GE Plan).
Fraturas mecânicas seguem padrões de fraturas existentes (Alverellos, Repsol)
Fraturamento térmico em rochas de baixa permeabilidade – também arenitos de alta permeabilidade (Tovar, IES)
Modelagem continua X modelagem discreta de fraturamento – subir a escala DFN é muito desafiador (Geiger, HWU)
O embasamento fornece selos e barreiras para migração – mas não se estiver fraturado (Hartz, Det Norske Oljeselskap)
Equação de Ruger pode dar densidade e orientação da fratura – modelos simples de laboratório mostram que esta equação as vezes segura (Chapman, Edinburgh University)


Uma gama de novas tecnologias foi apresentada: Drones para mapeamento de fraturas no campo (Bertotti, TUDelft); Imageamento de poço em alta definição e tempo real (Javagli, Schlumberger); Inversão de dados sísmicos de amplo azimute para fraturas (Ferrer, CGG) e equações universais para transferências de matriz de fraturas (Geiger, HWU).


O desafio de trabalhar dados regionais e de campo fraturados e reais foi tema de discussões por Tomaso (Petrobras), Hartz (The Norwegian Oil Company) and Turucanu (CSM) como dados limitados necessitam ser levados ao limite e a modelagem do reservatório demanda esforço e atenção.


Porém, houve concordância em algumas áreas:
Localizar fraturas é difícil, mas é fácil prever com modelo estrutural correto (Lewis, HWU)
Modelos de fratura devem ser direcionados por conceitos e dados (Riva, GE Plan)
Fraturas desenvolvem, porém, história complexa de soterramentos e muitos episódios de estresse (Bezerra, UFRN; Betotti (TUDelft)
Facies e litologia têm impacto na distribuição de fraturas (Cazarin, Petrobras)
Necessário modelar fraturas em 3D (Hartz, Det Norske Oljeselskap; Moos, Baker-Hugues)
Necessária uma abordagem multidisciplinar para se compreender as fraturas
Após dois dias de apresentação e debates quais foram suas considerações finais?


Parafraseando Robert Trice (citado no encontro) – Para desenvolver um reservatório fraturado é preciso "compreender fraturas em geral, compreender fraturas específicas e compreender fraturas detalhadamente". Para alguns participantes, a complexidade dos reservatórios fraturados significou que eles "compreenderam" menos do que eles pensam! Ao trazer especialistas em disciplinas de toda a rede internacional de pesquisa em fraturas e submetê-los a um questionamento detalhado, com certeza o workshop contribuiu para uma sensação geral de "upgrade de conhecimentos" de fratura entre os participantes.
Qual sua visão de futuro para as fraturas em reservatórios não convencionais?


Fraturamento é parte da abordagem padrão para o desenvolvimento de recursos de óleo ou gás não convencional (tight). Os temas não são tão técnicos, mas logísticos, ambientais e (na Europa) de aceitação pública. Na Europa, as preocupações ambientais estão em foco nas agendas e estão sendo examinadas por legisladores. Fraturamento tem o benefício adicional de ser detectado por eventos microssísimicos e várias apresentações no workshop demonstraram como estes podem ser monitorados com segurança desde a superfície, permitindo ao operador confirmar expectativas para o benefício da produção e da segurança ambiental.
Este conhecimento será útil para a indústria de óleo e gás manter sua predominância na matriz energética mundial?


Os recursos de óleo e gás são importantes para a sociedade mais do que apenas contribuir para o fornecimento de energia. Avaliar se existem recursos não convencionais para agregar aos significativos recursos convencionais brasileiros ajudará no fornecimento de energia local em um país em desenvolvimento acelerado com crescente demanda energética. Na medida em que a indústria der todos os passos necessários para reduzir a emissão de carbono – talvez pelo desenvolvimento de sistemas eficientes e baratos de captura e armazenagem de carbono de longo prazo – então não haverá motivos para que a indústria de óleo e gás não se mantenha próspera por muitos anos ainda.
A EAGE pretende promover outros workshops deste tipo no Brasil no futuro?


Com certeza a EAGE conversará com a SBGf para repetir workshops deste e de outros tópicos importantes. A chave é encontrar o equilíbrio para reunir companhias locais e globais e os profissionais para compartilhar desafios e sucessos tecnológicos. Localmente no Brasil parece difícil criar o ambiente correto para discussões abertas, de alto nível de conhecimento e tecnicamente focadas, mas os coordenadores deste primeiro evento EAGE-SBGf certamente esperam participar mais e continuar a contribuir para o desenvolvimento de uma expertise local brasileira.








Co-chairman


O geofísico Paulo Johann (Petrobras), que dividiu a coordenação do workshop EAGE/SBGf com Patrick Corbett, afirmou, por sua vez, que a representação espacial e mecânica da fratura de reservatórios carbonáticos tem grande importância nas modelagens geofísicas, geológicas, geomecânicas e de fluxo. Sua identificação, caracterização e representação são de fundamental importância para a indústria. Johann disse ainda que "a SBGf e a EAGE estão de parabéns em promover um evento desse nível técnico e trazendo pesquisadores, professores e profissionais da industria do petróleo de renomado saber para o Brasil e permite a divulgação desse conhecimentos entre os profissionais brasileiros que participaram do evento".

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