Definições básicas:
Se um plano passa pelo centro de uma esfera, ele a dividirá em dois hemisférios idênticos, ao longo de um grande círculo, ou círculo máximo. Qualquer plano que corta a esfera sem passar pelo seu centro a intercepta em um círculo menor ou pequeno.Quando dois círculos máximos se interceptam em um ponto, formam entre si um ângulo esférico. A medida de um ângulo esférico é igual à medida do ângulo plano entre as tangentes dos dois arcos que o formam.
Um ângulo esférico também é medido pelo arco esférico correspondente, que é o arco de um círculo máximo contido entre os dois lados do ângulo esférico e distantes 90° de seu vértice. A medida de um arco esférico, por sua vez, é igual ao ângulo que ele subentende no centro da circunferência.
Triângulos esféricos: Um triângulo esférico não é qualquer figura de três lados sobre a esfera; seus lados devem ser arcos de grandes círculos, ou seja, arcos esféricos.
Seja ABC um triângulo esférico como na figura, chamando os lados BC de a, CA de b e AB de c. O lado a mede o ângulo BOC subentendido no centro da esfera O pelo arco de grande círculo BC. Similarmente, b é medido pelo ângulo AOC e c pelo ângulo AOB.
Seja AD a tangente em A do grande círculo AB, e AE a tangente em A do grande círculo AC. Neste caso, a reta OA é perpendicular a AD e AE. Por construção, AD está no plano do grande círculo AB. Portanto, extendendo a reta OB, ela interceptará a tangente AD no ponto D. E OC interceptará a tangente AE em E. O ângulo esférico BAC é definido como o ângulo entre as tangentes, em A, aos grandes círculos AB e AC. Logo, BAC=DAE e chamamos de A.
tan c = |
sen c cos c |
sec c = | 1 cos c |
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1) A soma dos ângulos de um triângulo esférico é sempre maior que 180° e menor do que 540° e não é constante, dependendo do triângulo. De fato, o excesso a 180° é diretamente proporcional à área do triângulo.
2) A soma dos lados de um triângulos esférico é maior do que zero e menor do que 180°.
3) Os lados maiores estão opostos aos ângulos maiores no triângulo.
4) A soma de dois lados do triângulo é sempre maior do que o terceiro lado, e a diferença é sempre menor.
5) Cada um dos lados do triângulo é menor do que 180°, e isso se aplica também aos ângulos.
Solução de triângulos esféricos:
Ao contrário da trigonometria plana, não é suficiente conhecer dois ângulos para resolver o triângulo esférico. É sempre necessário conhecer no mínimo três elementos: ou três ângulos, ou três lados, ou dois lados e um ângulo, ou um ângulo e dois lados.
As fórmulas principais para a solução dos triângulos esféricos são:
- lei dos cossenos para os lados:
cos a = cos b cos c + sen b sen c cos A
cos b = cos a cos c + sen a sen c cos B
cos c = cos a cos b + sen a sen b cos C, - lei dos cossenos para os ângulos:
cos A = - cos B cos C + sen B sen C cos a
cos B = - cos A cos C + sen A sen C cos b
cos C = - cos A cos B + sen A sen B cos c - lei dos senos:
sen a / sen A = sen b / sen B = sen c / sen C
O Triângulo de Posição
Denomina-se triângulo de posição o triângulo situado na esfera celeste que tem por vértices: o astro, o polo elevado e o zênite.
Os lados e ângulos do triângulo de posição são:
- arco entre o zênite e o polo elevado = 90° - |φ|
- arco entre o zênite e astro = z
- arco entre o polo elevado e o astro = 90° - |δ|
- ângulo com vértice no zênite = A ( no hemisfério norte) ou A - 180° (no hemisfério sul)
- ângulo com vértice no polo elevado = H
- ângulo com vértice na estrela
Relações entre distância zenital (z), azimute (A), ângulo horário (H), e declinação (δ)
Usando a fórmula dos cossenos no triângulo de posição podemos tirar duas relações entre os sistemas de coordenadas:Dedução para δ e φ positivos (caso mais geral do hemisfério norte):
cos z = cos (90° - φ) cos (90° - δ) + sen (90° - φ) sen (90° - δ) cos H = sen δ sen φ + cos δ cos φ cos H
sen δ = sen φ cos z + cos φsen z cos A
Invertendo essas relações para isolar H e A temos:
cos H = cos z sec φ sec δ - tan φ tan δ
cos A = sen δ cosec z sec φ - tan φ cot z
A fórmula dos senos nos dá:
- cos δ / sen A = sen z / sen H
Dedução para δ e φ negativos (caso mais geral do hemisfério sul):
cos z = cos (90° - |φ|) cos (90° - |δ|) + sen (90° - |φ|) sen (90° - |δ|) cos H
cos (90° - |δ|)= cos z cos (90° - |φ|) + sen z sen (90° - |δ|) cos (A - 180°)
Lembrando que:
cos (90° - |φ|) = sen |φ|= - senφ
cos (90° - |δ|)= sen |δ| = -sen δ
sen (90° - |φ|) = cos |φ| = cos φ
cos (A - 180) = - cos A
As equações acima ficam: cos z = sen δ sen φ + cos δ cos φ cos H
e
sen δ = sen φ cos z + cos φ sen z cos A
cos A = (sen δ - sen φ cos z)/(cos φ sen z)
que são idênticas às deduzidas para o hemisfério norte.
Analogamente podemos mostrar que essas fórmulas são válidas para qualquer latitude e declinação.
Aplicações:
Uma aplicação prática é determinar o ângulo horário de um astro no instante do nascer ou do ocaso, quando sua distância zenital é 90°, pois ele se encontra no horizonte. Da relação que isola o ângulo horário, obtemos nessa situação:cos H = cos 90° sec φ sec δ - tan φ tan δ
Como cos 90° = 0, no nascer e no ocaso a fórmula se reduz a
cos H = - tan φ tan δ
Com esta fórmula podemos calcular, por exemplo, quanto tempo o Sol permanece acima do horizonte em um certo lugar e em uma certa data do ano, pois para qualquer astro o tempo de permanência acima do horizonte será 2 vezes o ângulo horário desse astro no momento do nascer ou ocaso.
O azimute do astro no nascer (ou ocaso) também pode ser calculado facilmente usando a fórmula em que temos o azimute em função de δ, z e φ:
cos A = sen δ cosec z sec φ - tan φ cot z
Como cosec 90° = 1 e cot 90° = 0, no nascer e no ocaso a fórmula se reduz a
cos A = sen δ sec φ
Exemplo:
Quanto tempo permanecerá o Sol acima do horizonte em Porto Alegre, cuja latitude é 30oS, no dia do Solstício de verão no hemisfério sul, em que a declinação do Sol é de -23o 27'?
Usando a fórmula acima,
cos H = -tan (-30°) tan (-23° 27′) = -0,2504 → H = 104,5 ° O tempo total que o Sol fica acima do horizonte será 2 H = 209° ≈ 14 h.
Especificamente, em Porto Alegre, o Sol estará acima do horizonte aproximadamente 14 h e 10 min em 21 de dezembro, e 10 h e 10 min em 21 de junho. Note que a diferença de 10 minutos é devido á definição de que o dia começa com a borda superior do Sol no horizonte, e o dia termina com a borda superior do Sol no horizonte, e não o centro do disco solar, como assumido na fórmula acima.
O azimute do Sol no nascer (ou ocaso) tambéa, nessa data, será:
cos A = sen δ sec φ
cos A = sen (-23° 27') sec (30°) = -0,46
Efeito da precessão dos equinócios na ascenção reta e declinação
Seja ε = 23,5° a obliquidade da eclíptica, e seja Δλ a variação da longitude eclíptica de uma estrela, pela mudança de posição do ponto Áries de γ para γ1, devido à precessão do polo de P para P1.A variação em declinação será:
e a variação em acensão reta será:
Determinação da distância angular entre estrelas
A separação angular entre duas estrelas é a distância medida ao longo do círculo máximo passando pelas duas estrelas. Sejam A e B as duas estrelas, e sejam αA, δA, αB e δB as suas coordenadas, ascenção reta e declinação.Podemos construir um triângulo esférico em que um dos lados seja a separação angular entre elas e os outros dois lados sejam as suas distâncias polares, ou seja, os arcos ao longo dos meridianos das estrelas desde o polo (P) até as estrelas.
Pela fórmula dos cossenos temos:
Exemplo:
Qual o tamanho da constelação do Cruzeiro do Sul, medido pelo eixo maior da Cruz? O eixo maior da Cruz é formado pelas estrelas Gacrux (; ) e Acrux (; )Chamando D o tamanho do eixo maior da Cruz, e aplicando a equação acima, temos:
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