Como a maioria das observações utiliza radiação electromagnética, e podemos obter informações sobre a natureza física da fonte estudando a distribuição de energia desta radiação, introduziremos alguns conceitos para a caracterização desta radiação.
- comprimento de onda
- freqüência
- c 300 000 km/s velocidade da luz
A radiação visível vai aproximadamente de 3900 Å (violeta) até cerca 7800 Å (vermelho).
Cor | Comprimento de onda (Å) | Freqüência (1012 Hz) |
---|---|---|
violeta | 3900 - 4550 | 659 - 769 |
azul | 4550 - 4920 | 610 - 659 |
verde | 4920 - 5770 | 520 - 610 |
amarelo | 5770 - 5970 | 503 - 520 |
laranja | 5970 - 6220 | 482 - 503 |
vermelho | 6220 - 7800 | 384 - 482 |
Grandezas Típicas do Campo de Radiação
A grandeza mais característica de um campo de radiação é uma constante chamada intensidade específica monocromática. Para melhor entender esse conceito, vamos antes revisar o conceito de ângulo sólido.
Ângulo sólido
Assim como podemos entender um ângulo plano como um setor de um círculo, definido como a razão entre o arco e o raio do círculo, podemos entender um ângulo sólido como um "setor" de uma esfera, definido pela razão entre o elemento de área na superfície da esfera e o seu raio ao quadrado:Intensidade específica
Quando a luz é emitida de uma fonte isotrópica (que emite igualmente em todas as direções), ela se expande esfericamente. É como se a fonte estivesse no centro de uma esfera, composta de 4 ângulos sólidos unitários, e cujo raio vai aumentando à medida que a luz se propaga. A energia que atravessa a unidade de área da fonte, por unidade de tempo e por unidade de ângulo sólido, é chamada intensidade específica:(1) |
Geralmente, a intensidade específica é medida em J m-2s-1sr-1Hz-1 no sistema MKS, ou erg cm-2s-1sr-1Hz-1 no sistema cgs.
Recapitulando, a intensidade específica monocromática é a energia por unidade de área e por unidade de tempo que está sendo emitida pela fonte, em um intervalo de freqüências . Na posição do observador, essa energia é captada ao longo de uma direção , que é o ângulo entre a linha de visada e a direção normal à superfície emissora, e dentro de um ângulo sólido , que será tanto menor quanto mais distante estiver o objeto. Formalmente, a intensidade específica é definida como a energia que atravessa um elemento de área dA, por intervalo de tempo, dentro de um elemento de ângulo sólido , na direção , dentro de um intervalo de freqüências e .
A intensidade específica, por sua definição, não depende da distância da fonte emissora, se não houverem fontes ou absorsores de radiação ao longo da linha de visada.
Podemos também definir a intensidade específica monocromática por intervalo de comprimento de onda, lembrando que, por definição:
A intensidade específica integrada em todo o espectro de freqüências é dada por:
Fluxo
Outra quantidade de grande interesse é o fluxo F, que é a energia por unidade de área e por unidade de tempo que chega ao detector, e é o que se mede realmente. Formalmente, o fluxo em uma certa freqüência, em um dado ponto e em uma dada direção, é a quantidade líquida de energia radiante cruzando a unidade de área, por unidade de tempo, e por intervalo de freqüência, ou seja,(2) |
O fluxo portanto significa potência através de uma superfície, e é expresso em erg cm-2s-1, ou em watts/m2.
Ao contrário da intensidade específica, o fluxo de radiação cai com o quadrado da distância (r), de forma que o fluxo que chega na Terra é muito menor do que o fluxo na superfície do astro, estando diluído por um fator de .
Para uma estrela esférica de raio R, o fluxo na sua superfície será
onde L=Luminosidade, a energia total emitida por segundo em todas as direções.
Nesse caso, F(r) é o fluxo integrado sobre toda a superfície da estrela, e a luminosidade da estrela L pode ser obtida diretamente multiplicando o fluxo dela proveniente pela área sobre a qual o fluxo se distribui, integrado sobre todas as freqüências.
Para objetos extensos (os que não têm aparência estelar), podemos definir ainda o brilho superficial, que é o fluxo captado pelo observador dentro de um ângulo sólido unitário (brilho = ). Aqui o ângulo sólido tem vértice no observador e é subentendido pela área A no objeto e, portanto, o brilho superficial é brilho por unidade de área angular. Assim como a intensidade específica, o brilho superficial não depende da distância, pois tanto o fluxo F como o ângulo sólido diminuem com o quadrado da distância entre o objeto e o observador.
Magnitudes
O brilho aparente de um astro é o fluxo medido na Terra e, normalmente, é expresso em termos da magnitude aparente m, que por definição é dada por:Porque o brilho de um astro é medido em magnitudes? Há 2000 anos, o grego Hiparco de Nicéia (c.190-120 a.C.) dividiu as estrelas visíveis a olho nu de acordo com seu brilho aparente, atribuindo magnitude 1 à mais brilhante e 6 às mais fracas. Na definição de Hiparco, as de magnitude=1 são as vinte primeiras estrelas que aparecem após o pôr-do-sol. Na definição moderna, existem 15 estrelas mais brilhantes que magnitude 1 e 48 até magnitude 2. A olho nu, com boa acuidade e num local escuro, podemos observar até a galáxia Andrômeda (V=3.44) (se pudermos observar declinação +41°), que está a dois milhões de anos-luz de distância.
Em 1856, Norman Robert Pogson (1829-1891), do Observatório Radcliffe, em Oxford, propos (Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, 17, p. 12) que o sistema de magnitudes, baseado na percepção de brilho do olho humano, é logarítmico, e o fluxo correspondente a uma estrela de primeira magnitude (m=1) era 100 vezes mais brilhante que uma estrela de magnitude 6, de modo que:
como na definição acima. Ou seja, por ter escala logarítmica, o olho humano consegue ver coisas 100× mais fracas que as mais brilhantes. Logo:
Para comparação,
m(Sírius)=-1,46
m(Lua cheia)=-12,8
m(Sol)=-26,74
No dia 2 de abril de 2013,
m(Lua cheia)=-12,8
m(Sol)=-26,74
Magnitude Aparente | Visível na constelação |
---|---|
m(Lua)=-10,28 | 53,5% iluminada, em Sagitários |
m(Mercúrio)=0,3 | em Aquário |
m(Vênus)=-3,9 | em Peixes |
m(Marte)=1,2 | em Peixes |
m(Júpiter)=-2,1 | em Touro |
m(Saturno)=0,2 | em Libra |
m(Urano)=5,9 | em Peixes |
m(Netuno)=8,0 | em Aquário |
m(Plutão)=14,1 | em Sagitário |
Como um telescópio tem uma área coletora maior do que um olho, pode coletar mais energia de um objeto com um determinado fluxo, de modo que o objeto parece mais brilhante quando visto pelo telescópio. Se uma estrela tem um fluxo Fo vista com o olho nu, então se vista por um telescópio aparecerá com um fluxo Ft dado por:
mt-mo=
-2,5 log10(Ft/Fo)=
- 5 log10(Dt/Do)
já que o fluxo medido é diretamente proporcional à área do telescópio.
Definindo a magnitude limite do olho humano como +6,
correspondente a um diâmetro da pupila de 8 mm,
a magnitude limite de um telescópio de diâmetro Dt
seria mlimite=16,5 + 5 log Dt,
para D em metros, já que quanto maior o telescópio, menor o fluxo que ele
consegue detectar, o que corresponde a maior magnitude.
Devido às perdas de luz nos telescópios, a magnitude limite é
cerca de meia magnitude menor,
mlimite=16 + 5 log Dt.
Mas um telescópio com um detector fotográfico ou eletrônico
pode integrar por um tempo maior do que o olho humano.
Como o fluxo integrado é proporcional ao tempo,
Flimite(t)=D2t. Na prática
o brilho do céu é que restringe o limite de detecção.
Sistemas de magnitudes
Quando medimos uma estrela, o fluxo obtido depende da sensibilidade espectral do equipamento, ou seja, do conjunto (telescópio + filtro + detector). Se chamamos de Φ(λ) a eficiência espectral do equipamento, temos:onde F(λo) é o fluxo no comprimento de onda efetivo do equipamento.
À esquerda, imagem de Sírius A e B obtida com o telescópio de raio-X do satélite Chandra. Enquanto no visível (direita) Sírius A é 10 000 (10 magnitudes) vezes mais brilhante do que Sírius B, no raio-X Sírius B é a mais brilhante. Nas imagens, as raias são reflexo na estrutura de sustentação do equipamento.
Para determinar a constante const. do sistema, usamos estrelas padrões, ou seja, estrelas que têm magnitudes bem determinadas. No caso das magnitudes U, B e V, as respectivas constantes foram escolhidas de tal modo que U=B=V=0 para a estrela Vega (A0V). Vega é a estrela Alfa Lyrae, a uma distância de d=25 anos-luz, a 5a estrela mais brilhante no céu e tem fluxo medidos aqui na Terra:
V
(V=0)=3,44 ×10-8 J m-2 s-1
μm-1
que corresponde a
cerca de 1000 fótons cm-2 s-1 Å-1.
O número
de fótons detectado no filtro V é de cerca de 106 fótons cm-2 s-1.
Com estes valores, vemos que
B-V =-2,5 log(FoB/FoV) + 0,710
U-B =-2,5 log(FoU/FoB) - 1,093
Imagem de um mesmo campo no céu no vermelho e no azul.
U-B =-2,5 log(FoU/FoB) - 1,093
Imagem de um mesmo campo no céu no vermelho e no azul.
A magnitude do fundo do céu, à noite,
por segundo de arco ao quadrado,
é cerca de
De dia, o limite de visibilidade do olho humano é da ordem de -3,4 magnitudes.
Cor | Comprimento de onda | Do espaço | Lua Nova | Lua Cheia |
---|---|---|---|---|
U | 3700Å | 23,2 | 22,0 | 17,0 |
B | 4400Å | 23,4 | 22,7 | 19,5 |
V | 5500Å | 22,7 | 21,8 | 20,0 |
R | 6400Å | 22,2 | 20,9 | 19,9 |
I | 8000Å | 22,2 | 19,9 | 19,2 |
J | 1,2μm | 20,7 | 15,0 | 15,0 |
H | 1,6μm | 20,9 | 13,7 | 13,7 |
K | 2,2m | 21,3 | 12,5 | 12,5 |
Índices de Cor
Em qualquer sistema de magnitudes multicor, define-se os índices de cor como a razão entre os fluxos em duas bandas (filtros) diferentes, ou equivalentemente, como a diferença entre duas magnitudes do sistema. Por exemplo,
- subtraindo a magnitude V da magnitude B temos o índice de cor B-V,
- subtraindo a magnitude B da magnitude U temos o índice de cor U-B.
Magnitude Absoluta
A magnitude aparente de uma estrela mede seu brilho aparente, que depende de sua distância. Por exemplo, qual estrela é intrinsicamente mais brilhante, Sírius, com m=-1,42 ou Vega, com m=0? Claro que visto aqui da Terra, Sírius é mais brilhante. Para podermos comparar os brilhos intrínsecos de duas estrelas, precisamos usar uma medida de brilho que independa da distância. Para isso, definimos como magnitude absoluta (M) a magnitude teórica que a estrela teria se estivesse a 10 parsecs de nós.m - M = 5 log r -5 |
Estrelas Brilhantes
Ordem | Estrela | Magnitude Absoluta MV | Magnitude Aparente mV | Distância à Terra (anos-luz) |
Tipo Espectral | B-V |
---|---|---|---|---|---|---|
0 | Sol | +4,72 | -26,72 | 8 min | G2 V | 0,7 |
1 | Sírius (no Cão Maior) | +1,4 | -1,46 | 8,6 | A1 V | 0,00 |
2 | Canopus (na Carina) | -2,5 | -0,72 | 74 | F0 Ib | 0,16 |
3 | Rigel Kentaurus (Alpha Centauri) | +4,4 | -0,27 | 4,3 | G2 V | 0,7 |
4 | Arcturus (em Boötes) | +0,2 | -0,04 | 34 | K2 III | 1,23 |
5 | Vega (na Lyra) | +0,6 | 0,03 | 25 | AO V | 0,00 |
6 | Capella (na Auriga) | +0,4 | +0,08 | 41 | G2 III | 0,79 |
7 | Rigel (no Órion) | -8,1 | +0,12 | 900 | B8 Ia | -0,03 |
8 | Procyon (no Cão Menor) | 2,8 | +0,38 | 11 | F5 IV | 0,41 |
9 | Archenar (em Eridanus) | -1,3 | +0,46 | 75 | B5 IV | -0,18 |
10 | Betelgeuse (no Órion) | -5,1 | +0,58 | 445 | M2 I | 1,85 |
11 | Hadar (no Centauro) | -4,3 | +0,61 | 300 | B1 II | -0,23 |
12 | Altair (na Águia) | +2,3 | +0,77 | 17 | A7 V | 0,22 |
13 | Acrux (no Cruzeiro) | -3,8 | +0,79 | 270 | B2 IV | -0,26 |
14 | Aldebaran (em Touro) | -0,2 | +0,87 | 65 | K5 III | 1,54 |
15 | Spica (em Virgem) | -4,7 | +0,98 | 260 | B1 V | -0,24 |
16 | Antares (no Escorpião) | -5,2 | +1,09 | 600 | M1 Ib | 1,87 |
Sistema de Strömgren
Um dos sistemas de banda intermediária usados é o definido em 1963 pelo dinamarquês Bengt Georg Daniel Strömgren (1908-1987) (Quarterly Journal of the Royal Astronomical Society, 4, p. 8) consistindo de filtros com largura entre 180 e 300 Å, centrados em 3500, 4110, 4670 e 5470 Å, cujas magnitudes são chamadas: u, v, b e y. [Begnt Strömgren. Spectral Classification Through Photoelectric Narrow-Band Photometry, Annual Review of Astronomy and Astrophysics, 4, 433-72 (1966).]Sistema de Trinh X. Thuan e James E. Gunn, 1976, Publications of the Astronomical Society of the Pacific 88, p. 543
Filtro | u | g | r | i | z |
---|---|---|---|---|---|
Comprimento de onda central (Å) | 3580 | 4900 | 6260 | 7670 | 9070 |
Largura de banda (Å) | 640 | 1350 | 1370 | 1540 | 1470 |
A linha contínua mostra a transmissão média no Observatório de Kitt Peak, em Tucson, Arizona, EUA, no verão. As curvas marcadas com J e K mostram as curvas de transmissão definidas por Harold Lester Johnson (1921-1980) em 1962 (Astrophysical Journal, 135, 69), enquanto as curvas marcadas com j,h, e k mostram as curvas dos filtros disponíveis no KPNO. J=1,1 a 1,4 (1,2) μm, H=1,62 μm, K=1,9 a 2,5 (2,2)μm, L=3,2 a 4,1 (3,5)μm, M=4,4 a 5,5 (5.00) μm, N=8 a 14 (9,00) μm. I é centrado em 8700Å, com largura de 2500Å, K é centrado em 2,2 μm, com 6000Å de largura (Harold L. Johnson & Aden B. Meinel. 1963, Astrophysical Journal, 138, 1317). Gerald E. Kron & J.Lynn Smith. 1951, Astrophysical Journal, 113, 324, definiram as cores R em 6800Å e I em 8250Å.
Magnitude Bolométrica
Se tivéssemos equipamentos de fossem 100% sensíveis em todos os comprimentos de onda, teoricamente poderíamos medir o fluxo em todo o intervalo espectral. A magnitude correspondente à energia em todas as freqüências (desde os raios até as ondas de rádio) é chamada de magnitude bolométrica (mbol e Mbol).mbol = mv - C.B. |
Extinção Atmosférica
Transmissão da Atmosfera da Terra
Na atmosfera existem vários componentes que difundem a luz em todas as direções (moléculas, partículas sólidas de poeira e fumaça), causando uma extinção contínua, em todos os comprimentos de onda. A extinção é tanto maior quanto maior for a quantidade de ar atravessada pela luz. É por este motivo que podemos olhar diretamente para o Sol no horizonte.
A absorção se dá por vários processos atômicos e moleculares. Absorções em freqüências particulares - linhas ou bandas - se dá por excitação de moléculas e átomos, enquanto ionização ou dissociação molecular leva a absorção contínua para todos as freqüências correspondentes a energia acima da energia necessária para separar os átomos ou moléculas. A extinção pela atmosfera da Terra, incluindo absorção e espalhamento, é total exceto nas janelas visual e rádio.
O espalhamento da radiação depende do comprimento de onda da radiação e do tamanho das partículas.
- Se o tamanho da partícula for muito maior do que o comprimento de onda da radiação (d » λ), o espalhamento é independente do comprimento de onda. Por isto o céu fica cinza em dias nublados: a luz do Sol é espalhada igualmente em todos os comprimentos de onda visuais e, porisso podemos fazer espectroscopia com nuvens.
- Se o tamanho da partícula for similar ao comprimento de onda da radiação (d ˜ λ), como no espalhamento da luz visível pela poeira, a intensidade varia com 1/λ, chamado espalhamento de Mie [Gustav Adolf Feodor Wilhelm Ludwig Mie (1869-1957)], de modo que luz azul se espalha mais do que luz vermelha.
- Se o tamanho da partícula for muito menor do que o comprimento de onda da radiação (d « λ), o espalhamento depende muito fortemente do comprimento de onda, e a intensidade varia com 1/λ4, chamado espalhamento de Rayleigh [John William Strutt, terceiro Barão Rayleigh (1842-1919)]. O azul do céu é causado pelo espalhamento Rayleigh pelas moléculas do ar.
A atmosfera da Terra não é estática nem horizontalmente estratificada. Ela está em constante movimento em várias escalas espaciais e temporais, desde as grandes e lentas causadas pelas frentes climáticas, até as rápidas e pequenas causadas por turbulência, devido a variações de temperatura e ventos. Estas mudanças constantes causam cintilação. Existem dois efeitos: variações da massa de ar no feixe causam flutuações na intensidade, enquanto variações no índice de refração ao longo do feixe causam variações na posição da imagem. Turbulência de pequena escala na atmosfera causa rápidas variações randômicas com escalas de segundos de arco na posição de imagens puntuais - a fonte se espalha em um disco aparente (seeing disk), se não for observada com resolução temporal da ordem de um centésimo de segundo. Esta cintilação é que limita o poder de resolução de telescópios na Terra. Os telescópios em Terra são limitados pelo seeing, e não por difração, no ótico. Como a massa de ar é maior no horizonte do que no zênite, a melhor observação é o mais próximo do zênite possível.
A atmosfera da Terra afeta as medidas, de forma que as magnitudes observadas devem ser ajustadas aos valores que teríamos se as observações fossem feitas fora da atmosfera. O efeito da atmosfera é absorver e espalhar a radiação em outras direções, processos esses que são descritos por um coeficiente de absorção k, usualmente medido em cm-1.
Podemos expressar a extinção atmosférica em função da massa de ar atravessada pelo raio luminoso.
Como onde z é a distância zenital,
Imaginemos a atmosfera como uma camada de altura H, Fo o fluxo no topo da atmosfera e F o que chega ao observador. Então,
A espessura ótica é uma função da distância zenital z, e supondo que a camada atmosférica é formada por camadas plano-paralelas, ela pode ser expressa por onde = kH é a espessura ótica na direção do zênite, e o fluxo será:
Em magnitudes, essa equação fica:
onde é o coeficiente de extinção, e é a massa de ar.
Um exemplo de aplicação deste conceito é considerarmos uma estrela observada a uma distância zenital de 45°. Como sec 45°= 1,41 e usando um coeficiente K = 0,40, típico de observações óticas, obtemos F = 0,57 Fo, ou seja, a atmosfera terrestre absorve 43% da luz da estrela ao observarmos a 45° do zênite.
A diferença (m - mo) é a extinção atmosférica em magnitudes, e é determinada através de estrelas padrões para as quais mo é conhecido.
A constante K é característica do meio, e depende do comprimento de onda, sendo mais correto escrever
Para o sistema UBV, e para locais situados acima de 2000 m de altitude,
K(U)
0,48,
K(B) 0,25 e
K(V) 0,14.
Os valores são cerca de 75% maiores ao nível do mar.
Se observarmos uma estrela a 45° do zênite,
vemos que a extinção atmosférica neste caso
equivale a
0,48 sec 45°=0,68 mag em U, 0,25 sec 45°=0,35 mag em B e 0,14 sec 45°=0,20 mag em V.
K(B) 0,25 e
K(V) 0,14.
Distância Zenital | Massa de ar |
---|---|
88° | 19,79 |
87° | 15,36 |
86° | 12,44 |
85° | 10,40 |
84° | 8,90 |
82° | 6,88 |
80° | 5,60 |
75° | 3,82 |
70° | 2,90 |
65° | 2,36 |
60° | 2,00 |
50° | 1,55 |
40° | 1,30 |
30° | 1,15 |
20° | 1,06 |
10° | 1,02 |
0° | 1,00 |
Extinção Interestelar e Excesso de Cor
Além da extinção atmosférica, é necessário levar em conta também a extinção interestelar, devida à poeira interestelar concentrada principalmente no plano da Galáxia, e que também extingue a luz das estrelas. A extinção interestelar depende da direção em que se encontra o objeto, visto que a distribuição de matéria na nossa galáxia é não homogênea. A luz provinda de outras galáxias também sofre extinção dentro das próprias galáxias.Se não existisse extinção, a magnitude visual absoluta MV de uma estrela de magnitude aparente Vo, localizada a uma distância d seria:
|
|
|
|
|
A extinção interestelar em magnitudes é representada pela letra A com um subscrito indicando a banda espectral a que se refere, por exemplo, a extinção interestelar na banda B é AB e na banda V é AV.
Michael J. Seaton, em seu artigo de 1979 no Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, 187, 73, apresenta a variação da extinção com o comprimento de onda.
Edward L. Fitzpatrick & Derck Massa (2007, Astrophysical Journal, 663, 320) apresentam valores recentes.
= (0,72 ± 0,03)
até que esteja sobre a curva. O deslocamento
de a até a', é chamado de
excesso de cor, e mede o quanto a estrela está avermelhada.
>
A cor das estrelas muda também com a classe de luminosidade.
A correção ao fluxo observado em V, FVobs,
também pode ser obtida do
avermelhamento, já que cada tipo de poeira interestelar produz uma razão
constante de fluxos:
A cor das estrelas muda também com a classe de luminosidade.
AV = RV EB - V,
ou seja:
Vo = - 2, 5logFVobs - AV + CV
onde CV é a constante do sistema.
O valor de RV, a razão entre o avermelhamento total e o seletivo, está entre 3,0 e 5,0, dependendo da direção na
Galáxia, devido à variação no tamanho e composição química dos grãos de poeira.
O valor mais provável, fora das regiões de grande extinção, é de RV=(2,99 ± 0,27),
de acôrdo com Edward L. Fitzpatrick & Derck Massa (2007, Astrophysical Journal, 663, 320).
A calculadora do NED usa
a recalibração do avermelhamento de Edward F. Schlafly & Douglas P. Finkbeiner 2011 (ApJ 737, 103, 2011)
para as cores do SDSS e recomenda RV=3.1.
A magnitude do Sol cai de -26,7 para cerca de -15,8 no horizonte.
Uma aproximação para a absorção interestelar é Aλ = 6,5×10-10/λ - 2,0×10-4 mag/pc.
Desta maneira podemos obter os valores reais dos fluxos, isto é, os fluxos corrigidos pelo avermelhamento interestelar, e medir não somente a temperatura, mas também estimar a correção bolométrica C.B., que definimos como:
Mbol = V + 5 log d(pc) - 5 - C.B.. =
- 2,5log L + C,
onde Mbol é magnitude bolométrica,
e corresponde à luminosidade da estrela, que é
integrada sobre todos os comprimentos de onda.
A correção bolométrica é definida
como C.B.=0 para o Sol (B-V=0,68) e é positiva
tanto para estrelas mais quentes quanto mais frias que o Sol.
Seqüência Principal
Tipo | (B - V)0 | (U - B)0 | Tef | C.B. | MBol | Massa () |
---|---|---|---|---|---|---|
O5 | -0,35 | -1,15 | 40000 | 4,00 | -10,0 | 120 |
B0 | -0,31 | -1,06 | 28000 | 2,80 | -6,8 | 17 |
B5 | -0,16 | -0,55 | 15500 | 1,50 | -2,6 | 6 |
A0 | 0,00 | -0,02 | 9900 | 0,40 | 0,1 | 2,9 |
A5 | 0,13 | 0,10 | 8500 | 0,12 | 1,7 | 2,2 |
F0 | 0,27 | 0,07 | 7400 | 0,06 | 2,6 | 1,6 |
F5 | 0,42 | 0,03 | 6580 | 0,00 | 3,4 | 1,25 |
G0 | 0,58 | 0,05 | 6030 | 0,03 | 4,3 | 1,1 |
G5 | 0,70 | 0,19 | 5520 | 0,07 | 5,0 | 0,9 |
K0 | 0,89 | 0,47 | 4900 | 0,19 | 5,8 | 0,8 |
K5 | 1,18 | 1,10 | 4130 | 0,60 | 6,7 | 0,65 |
M0 | 1,45 | 1,18 | 3480 | 1,19 | 7,8 | 0,5 |
M5 | 1,63 | 1,20 | 2800 | 2,30 | 9,8 | 0,15 |
(B-V)=-0,865 + 8540K/T → T=8540K/[(B-V)+0.865]
Teoria da Radiação
Em 1859-60, os físicos encontraram um problema: como descrever matematicamente como um corpo aquecido irradia energia, isto é, quanto ele emite em cada comprimento de onda. Para abordar o problema, começaram por examinar um caso teórico simplificado, o corpo negro, definido por Gustav Robert Kirchhoff (1824-1887), de Heidelberg, como um objeto que absorve toda a luz que incide sobre ele, sem refletir nada da radiação. Um corpo com essa propriedade, em princípio, não pode ser visto e, portanto, é negro. Para tal corpo estar em equilíbrio termodinâmico, ele deve irradiar energia na mesma taxa em que a absorve, do contrário ele esquentaria ou esfriaria, e sua temperatura variaria. Portanto, um corpo negro, além de ser um absorsor perfeito, é também um emissor perfeito. Desde então muitos experimentos tentaram medir seu espectro, isto é, como sua intensidade varia com a freqüência.Em 1900, o físico alemão Max Karl Ernst Ludwig Planck (1858-1947) postulou que a energia eletromagnética só pode se propagar em quanta discretos, ou fótons, cada um com energia E=h × freqüência
=
Com esta quantização da energia, ele pode deduzir teoricamente a intensidade de um campo de radiação, como a seguir. A intensidade específica monocromática (energia por unidade de comprimento de onda, por segundo, por unidade de área, e por unidade de ângulo sólido) de um corpo que tem uma temperatura uniforme T e está em equilíbrio termodinâmico com seu próprio campo de radiação (isto é, é opaco), é chamada e é dada pela Lei de Planck:
onde E é a energia da partícula (fóton), c a velocidade da luz, e dnb(p) é o número de fótons com momentum p, associado à energia E, e é dado pela distribuição de momentum de Bose-Einstein de um gás de bósons de spin s:
onde C é um multiplicador lagrangeano (número real) que depende da densidade de partículas (número de partículas por unidade de volume N) e é obtido integrando-se:
O termo (2s+1) representa o número de partículas (estados independentes) possíveis com mesma energia E, e o termo h-3 é necessário devido ao princípio da incerteza de Heisenberg, proposto em 1927 pelo alemão Werner Karl Heisenberg (1901-1976):
= -
obtendo
Lei de Wien
Como podemos ver da figura com a Lei de Planck, o comprimento de onda em que a intensidade é máxima varia com a temperatura.
5e-x = 5-x
que pode ser resolvida numericamente, obtendo-se:
(1) |
Lei de Stefan-Boltzmann
O fluxo (energia por unidade de área, por segundo) de um corpo negro de temperatura T é dado por:A luminosidade do Sol, isto é, a energia total emitida pelo Sol é , sendo que 1 Joule = 107 ergs.
Como o raio do Sol é de 700 000 km, segue que a temperatura efetiva do Sol é Tef = 5400K.
Podemos então escrever a equação de Wien aproximadamente como
maxT=5400Å×5400K
No modelo de Jorge E. Vernazza, Eugene H. Avrett & Rudolf Loeser, (1973, Astrophysical Journal, 184, 605), a maior parte do espectro visível do Sol tem origem em uma camada com cerca de 1000~km de extensão, e a temperatura varia de 9000K a 4000K. A gravidade superficial do Sol é de g=2,738 × 104cm/s2=273,8 m/s2.
A definição de temperatura de um objeto astronômico não é única, pois depende do método que estamos usando para medi-la. Assim, a temperatura de uma estrela medida pela lei de Wien (a partir da intensidade em um comprimento de onda), é ligeiramente diferente da sua temperatura medida pela lei de Stefan-Boltzmann (a partir da luminosidade e do raio). Esta última é chamada temperatura efetiva, enquanto a primeira é chamada temperatura de brilho. Pode-se ainda definir a temperatura de cor, determinada a partir da razão de fluxos em dois comprimentos de onda diferentes. Essas temperaturas não são iguais porque os corpos astronômicos não são corpos negros perfeitos.
Energia do Sol na Terra
A energia que atinge a Terra por unidade de área e de tempo, por definição de fluxo, é de:onde r é a distância do Sol à Terra, de 1 unidade astronômica (UA) = 150 milhões de km, e .
Portanto a potência luminosa interceptada pela Terra, que tem uma secção reta , onde é o raio da Terra km, é dada por:
Devido à rotação da Terra, o fluxo médio incidente é obtido dividindo a potência interceptada na Terra pela área total da Terra, .
A Terra absorve 61% da luz incidente, refletindo os outros 39%. A energia absorvida aquece a Terra, que irradia como um corpo negro a uma taxa por unidade de área. Logo,
o que resulta em uma temperatura para a Terra de K.
De fato, devido ao efeito estufa do gás carbônico (CO2) e da água, a temperatura da Terra é de 290 K. Portanto o efeito estufa mantém a água na superfície da Terra acima do ponto de congelamento, de 273 K.
A escala de temperatura que usamos quotidianamente é a Celsius [Anders Celsius (1701-1744)], cuja divisão é também chamada de graus centígrados, pois varia de 1 a 100 do ponto de congelamento até a ebulição da água. A relação entre os dois sistema é: T(C)=T(K)-273, ou seja, 0 C=273 K.
Notas:
Max Karl Ernest Ludwig Planck nasceu em 23 de abril de 1858 na cidade de Kiel, no norte da Alemanha. Cursou a Universidade de Munique e depois foi para Berlin estudar com Hermann von Helmoltz (1821-1894) e Gustav Kirchhoff (1824-1887). Obteve seu doutorado em Munique em 1879, com uma tese sobre o segundo princípio da termodinâmica. Em 1885 tornou-se professor na Universidade de Kiel e quatro anos mais tarde na Universidade de Berlin, onde passou a catedrático em 1892. Permanceu no cargo até seus 70 anos, quando aposentou-se e passou a dar palestras sobre ciência e religião. Morreu em 4 de outubro de 1947.
Se um gás frio está na frente da fonte luminosa, não tem uma hora em que depois de bloquear luz ele fica quente e começa a emitir luz também? O que acontece com o equilíbrio termodinâmico nesse caso? Esse caso, que ocorre na atmosfera de uma estrela, é chamado equilíbrio termodinâmico local. É um conceito importante na teoria de interiores de estrelas e evolução estelar.
As camadas mais internas das estrelas são mais quentes e emitem mais radiação que as camadas mais externas. Assim, a luz (ou melhor, a radiação, pois a maior parte não é visível), sai de uma camada quente mais interna [chamemos de camada (n-1)], passa pela camada considerada (n) e atinge uma camada FRIA mais externa (n+1). Para haver equilíbrio, isto é, para a temperatura se manter, será necessário que a energia que entra, vinda da camada (n-1), seja transmitida para a camada (n+1), sem ficar "depositada" na camada n e aumentar sua temperatura. Isso, porém, não significa que a camada n é transparente, mas que a radiação vai fluir do interior da estrela para fora. Aliás, no interior da estrela, a radiação vai se deslocar somente uns poucos centímetros antes de ser reabsorvida. Mas depois ela será re-emitida em todas as direções e vai fazer um caminho em zig-zag lentamente até a superficie da estrela.
Assim, o resultado final é que a energia gerada nas reações nucleares no núcleo da estrela vai acabar sendo emitida na superfície da estrela, passando pelas camadas intermediárias sem alterar significativamente a distribuição de temperatura dessas camadas. Isso é bem diferente do equilíbrio termodinâmico per se, em que as todas as camadas têm a mesma temperatura.
O espectro emitido no centro da estrela, pelas reações nucleares, é "duro", de raios gama, mas logo vai ser "abrandado" ou ficar mais "mole" (de comprimento de onda maior e energia menor por "fóton"). Como a energia total se mantem e cada fóton tem menos energia, o número de fótons é muito maior. Nesse processo, que envolve um enorme número de eventos ou colisões entre os fótons e a matéria, o espectro será contínuo, distribuído em todas as freqüências. Ao migrar para camadas mais externas e frias, o espectro se torna cada vez mais "mole", passando a ser principalmente em raios X, ultravioleta e, finalmente, perto da superfície, no vísivel.
A "superfície" de uma estrela (fotosfera) não é uma camada de propriedades químicas e físicas distintas, como nos planetas. Toda a estrela é um gás, que absorve e reemite a radiação, de acordo com a sua temperatura. Mais no centro, o gás (na maioria hidrogênio e hélio) está todo ionizado, sendo composto de núcleos e elétrons livres. Porém a temperatura é menor na superfície, havendo átomos que podem ter elétrons em diferentes energias. Mas os elétrons não podem ficar em qualquer nível de energia - é um fato básico e muito intrigante. Eles só "aceitam" energia de comprimento de onda bem determinado (6563 Å, da linha H, por exemplo, no átomo de H) e então "pulam" para um nível mais alto, absorvendo o fóton dessa energia. Não "servem" os fótons de menos energia, nem tampouco os de mais energia, a não ser de energia bem maior, que permite "pular" dois níveis para cima. Assim, quando a radiação passa pela camada externa (menos densa e mais fria) os átomos dessa camada vão absorver apenas os fótons de comprimentos de onda característicos, que serão removidos da radiação que se desloca da camada mais interna para fora da estrela. Além da fotosfera, o gás está tão rarefeito que, na prática, não mais absorve a radiação visível. Assim, a "superfície" é apenas um fenômeno ótico, relacionado com a emissão e absorção da luz da estrela.
Portanto, superpostas na radiação contínua emitida pela estrela, aparecem linhas escuras (linhas de Fraunhofer, que as identificou, classificou e estudou a partir de 1814), características dos elementos químicos das camadas superficiais da estrela. Porém, o gás que absorve a luz também se aquece. Na fotosfera do Sol, a temperatura é superior a 5000 K. As linhas escuras nunca são totalmente escuras ou desprovidas de luz. Elas têm a contribuição da luz emitida pelo gás que absorve a luz, mas que também a reemite.
A emissão do céu não é somente no contínuo, mas se dá em linhas.
No sistema AB, definido por Oke & Gun 1983, a magnitude 0 corresponde a um objeto com =3631 Jy (1 Jy = 1 Jansky = 10-26 W Hz-1 m-2 = 10-23 erg s-1 Hz-1 cm-2). O sistema AB é definido para um objeto sem variação em , isto é, plano.
Johannes Nendwich, U. Heiter, F. Kupka, N. Nesvacil e Werner W. Weiss, publicaram no Communications in Asteroseismology, 144, 43 (2004) as curvas de transmissão de 14 sistemas fotométricos. O sistema medidas de som em decibéis também é uma escala logarítmica, com 20 db correspondendo a um fator de 100.
Calculadora para conversão entre magnitudes e fluxos, para diversos sistemas fotométricos.
Tabelas de extinção atmosférica..
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