A descoberta das galáxias
Por volta do século XVIII vários astrônomos já haviam observado, entre as estrelas, a presença de corpos extensos e difusos, aos quais denominaram "nebulosas". Hoje sabemos que diferentes tipos de objetos estavam agrupados sob esse termo, a maioria pertencendo à nossa própria Galáxia: nuvens de gás iluminadas por estrelas dentro delas, cascas de gás ejectadas por estrelas em estágio final de evolução estelar, aglomerados de estrelas. Mas algumas nebulosas - as nebulosas espirais - eram galáxias individuais, como a nossa Via Láctea.M86=S0 M91=SBb M92=Irr
Até 1908, cerca de 15 000 nebulosas haviam sido catalogadas e descritas. Algumas haviam sido corretamente identificadas como aglomerados estelares, e outras como nebulosas gasosas. A maioria, porém, permanecia com natureza inexplicada.
O catálogo de objetos difusos de Charles Messier (1758-1782) [Fonte: The SEDS Messier Catalog Webpages].
Shapley
Curtis
Dois dos maiores protagonistas nessa controvérsia foram
Harlow Shapley
(1885-1972), do Mount Wilson Observatory, e
Heber
Doust Curtis (1872-1942), do
Lick Observatory, ambos nos Estados Unidos. Shapley defendia que
as nebulosas espirais eram objetos da nossa Galáxia, e Curtis
defendia a idéia oposta, de que eram objetos extragalácticos.
A discussão culminou num famoso debate em abril de 1920, frente
à Academia Nacional de Ciências. Mas o debate não resolveu
a questão. Somente em 1923 Edwin Powell Hubble (1889-1953) proporcionou a evidência definitiva para considerar as "nebulosas espirais" como galáxias independentes, ao identificar uma variável Cefeida na "nebulosa" de Andrômeda (M31).
Montagem da foto da galáxia Andrômeda, M31, que tem B=3,4, declinação de +41° e está a 2,2 milhões de anos-luz de nós, 190'×60', vr=-300 km/s, z=-0.001, com a imagem da Lua na mesma escala, mas a Lua é 1,5 milhão de vezes mais brilhante (15,5 magnitudes). A Lua não passa próxima da posição da galáxia no céu. A galáxia M 110, sua satélite, está na parte inferior. ©Adam Block e Tim Puckett. O primeiro registro conhecido da galáxia é do ano 905 d.C., pelo astrônomo persa Abd Al-Rahman Al Sufi (903-986).
Uma cefeida na galáxia IC 4182, (m-M) = 28.36 ± 0.09, observada pelo Telescópio Espacial Hubble
Classificação morfológica de galáxias
As galáxias diferem bastante entre si, mas a grande maioria têm formas mais ou menos regulares quando observadas em projeção contra o céu, e se enquadram em duas classes gerais: espirais e elípticas. Algumas galáxias não têm forma definida, e são chamadas irregulares. Atualmente se sabe que as galáxias nascem nas regiões de maior condensação da matéria escura. A distribuição destas condensações é aleatória. Se há assimetria na distribuição das condensações em uma região do espaço, a força de maré produzida pela assimetria gera momentum angular na nuvem, e uma galáxia espiral se forma. Se a distribuição local é simétrica, não haverá momentum angular líquido, e uma galáxia elíptica se forma.Um dos primeiros e mais simples esquemas de classificação de galáxias, que é usado até hoje, aparece no livro de 1936 de Edwin Hubble, The Realm of the Nebulae, baseado no esquema proposto por John Henry Reynolds (1874-1949) em 1920 (Photometric measures of the nuclei of some typical spiral nebulae, Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, 80, 746). O esquema de Hubble consiste de três sequências principais de classificação: elípticas, espirais e espirais barradas. Nesse esquema, as galáxias irregulares formam uma quarta classe de objetos.
Esquema de Hubble para a classificação de galáxias.
Espirais (S)
As galáxias espirais, quando vistas de frente, apresentam uma clara estrutura espiral. Andrômeda (M31) e a nossa própria Galáxia são espirais típicas. Elas possuem um núcleo, um disco, um halo, e braços espirais. As galáxias espirais apresentam diferenças entre si principalmente quanto ao tamanho do núcleo e ao grau de desenvolvimento dos braços espirais. Assim, elas são subdivididas nas categorias Sa, Sb e Sc, de acordo com o grau de desenvolvimento e enrolamento dos braços espirais e com o tamanho do núcleo comparado com o do discoa | núcleo maior, braços pequenos e bem enrolados |
---|---|
b | núcleo e braços intermediários |
c | núcleo menor, braços grandes e mais abertos |
Fotos de galáxias obtidas por Jim Wray, no McDonald Observatory.
As galáxias espirais têm diâmetros que variam de 20 mil anos-luz até mais de 100 mil anos-luz. Estima-se que suas massas variam de 10 bilhões a 10 trilhões de vezes a massa do Sol. Nossa Galáxia e M31 são ambas espirais grandes e massivas.
NGC1365
Exemplos de galáxias espirais e espirais barradas.
Elípticas (E)
As galáxias elípticas apresentam forma esférica ou elipsoidal, e não têm estrutura espiral. Têm pouco gás, pouca poeira e poucas estrelas jovens. Elas se parecem ao núcleo e halo das galáxias espirais.As galáxias elípticas são chamadas de En, onde n=10(a-b)/a, sendo a o semi-eixo maior e b o semi-eixo menor.
As galáxias elípticas variam muito de tamanho, desde super-gigantes até anãs. As maiores elípticas têm diâmetros de milhões de anos-luz, ao passo que as menores têm somente poucos milhares de anos-luz em diâmetro. As elípticas gigantes, que têm massas de até 10 trilhões de massas solares, são raras, mas as elípticas anãs são o tipo mais comum de galáxias.
Irregulares (I)
Hubble classificou como galáxias irregulares aquelas que eram privadas de qualquer simetria circular ou rotacional, apresentando uma estrutura caótica ou irregular. Muitas irregulares parecem estar sofrendo atividade de formação estelar relativamente intensa, sua aparência sendo dominada por estrelas jovens brilhantes e nuvens de gás ionizado distribuídas irregularmente. Em contraste, observações na linha de 21 cm, que revela a distribuição do gás hidrogênio, mostra a existência de um disco de gás similar ao das galáxias espirais. As galáxias irregulares também lembram as espirais no seu conteúdo estelar, que inclui estrelas de população I e II (jovens e velhas).Os dois exemplos mais conhecidos de galáxias irregulares são a Grande e a Pequena Nuvens de Magalhães, as galáxias vizinhas mais próximas da Via Láctea, visíveis a olho nu no Hemisfério Sul, identificadas pelo navegador português Fernão de Magalhães (1480-1521), em 1519, mas incluídas em 964 no Livro de Estrelas Fixas, de Abd-al-Rahman Al Sufi. A Grande Nuvem, com diâmetro aparente de 650'×550', V=0,1, tem uma barra, embora não tenha braços espirais. Aparentemente ela orbita a Via Láctea, com velocidade de 387 km/s. Nela está presente o complexo 30 Doradus, um dos maiores e mais luminosos agrupamentos de de gás e estrelas super-gigantes conhecido em qualquer galáxia. A Supernova 1987A ocorreu perto de 30 Doradus. A massa da Grande Nuvem é da ordem de 6 × 109 massas solares, e sua distância da ordem de 176 mil anos-luz. A Pequena Nuvem de Magalhães, com 280'×160', V=2,3, v=302 km/s, d=210 mil anos-luz.
A Grande Nuvem de Magalhães, uma galáxia irregular. A mancha vermelha à esquerda é a região de formação estelar gigante 30 Doradus. Foto por Wei-Hao Wang.
Foto das galáxias irregulares Grande Nuvem de Magalhães e Pequena Nuvem de Magalhães, obtida por Wei-Hao Wang.
Propriedade | Espirais | Elípticas | Irregulares |
---|---|---|---|
Massa () | a | a | a |
Diâmetro ( parsecs) | 5 - 30 | 1 - 1000 | 1 - 10 |
Luminosidade () | 108 a 1011 | 106 a 1012 | 107 a 2 × 109 |
População estelar | Velha e jovem | Velha | Velha e jovem |
Tipo espectral | A a K | G a K | A a F |
Gás | Bastante | Muito pouco | Bastante |
Poeira | Bastante | Muito pouca | Varia |
Cor | Azulada no disco | Amarelada | Azulada |
Amarelada no bojo | |||
Estrelas mais velhas | anos | anos | anos |
Estrelas mais jovens | Recentes | anos | Recentes |
Principais características dos diferentes tipos de galáxias
Massas de galáxias
Assim como a massa de uma estrela é a sua característica física mais importante, também nas galáxias a massa tem um papel crucial, não apenas em sua evolução como sistemas individuais, mas na evolução do próprio Universo. Por exemplo, da quantidade de massa das galáxias depende a densidade de matéria visível do Universo.A melhor maneira de medir a massa é a partir das velocidades das estrelas devido à atração gravitacional entre elas. Em galáxias elípticas, as velocidades medidas são velocidades médias, pois os movimentos das estrelas nesses sistemas têm componentes de mesma magnitude nas três direções, e todas seguem órbitas bastante elípticas.
Massas de galáxias elípticas
A energia cinética das estrelas na galáxia pode ser escrita como:
Massas de galáxias espirais
As galáxias espirais têm grande parte das estrelas confinadas ao plano do disco, com órbitas quase circulares, e velocidades que dependem da distância ao centro.
Curva de rotação para a galáxia espiral NGC3198.
Em galáxias espirais, nas quais o movimento circular das estrelas
no disco é dominante sobre o movimento desordenado das estrelas do bojo,
a massa pode ser determinada através da
curva de rotação, v(R), que é um gráfico da velocidade
de rotação em função da distância galactocêntrica.
As velocidades de rotação em cada ponto são obtidas medindo
o
deslocamento Doppler das linhas espectrais.
Assumindo que a maior parte da massa da galáxia está no bojo
interno, e que portanto o movimento rotacional das estrelas no disco
é determinado pela massa do bojo, podemos determinar essa massa
através da igualdade da força gravitacional
com a força centrífuga,
da mesma maneira como determinamos
a massa da nossa Galáxia.
A formação e evolução das galáxias
Qual a causa de existirem diferentes tipos de galáxia? Quando os primeiros estudos sobre galáxias iniciaram, o fato de as galáxia elípticas terem estrelas em geral mais velhas do que as galáxias espirais levou os astrônomos a pensarem que as diferenças se deviam à evolução, ou seja, as galáxias quando jovens seriam espirais e mais tarde evoluiriam a elípticas.Entretanto, se determinarmos as idades das estrelas mais velhas em sistemas espirais e em sistemas elípticos, encontramos que em todos os tipos, essas estrelas são igualmente velhas, em torno de 10 bilhões de anos. Portanto, todas as galáxias que vemos começaram a se formar mais ou menos na mesma época na história do universo, e portanto têm mais ou menos a mesma idade. A diferença é que nas espirais e nas irregulares sobrou gás suficiente para continuar o processo de formação estelar até a época presente.
Imagem de longa exposição do telescópio Espacial Hubble, mostrando que todos os tipos de galáxias já eram encontradas no passado remoto.
Outro fator importante é a quantidade de momentum angular (quantidade de rotação) da nuvem de gás primordial: quanto mais momentum angular a nuvem tinha inicialmente, mais achatada será a forma final. Levando isso em conta, as elípticas teriam se formado de nuvens que tinham pouca rotação quando começaram a se contrair, ao passo que as espirais teriam se formado do colapso de nuvens com mais rotação.
Qual a causa de existirem diferentes tipos de galáxia? Quando os primeiros estudos sobre galáxias iniciaram, o fato de as galáxia elípticas terem estrelas, em geral, mais velhas do que as galáxias espirais, levou os astrônomos a pensarem que as diferenças se deviam à evolução, ou seja, as galáxias, quando jovens, seriam espirais e, mais tarde, evoluiriam a elípticas. Mas essa idéia teve de ser abandonada pela constatação de que as estrelas mais velhas das galáxias espirais são tão velhas quanto as estrelas mais velhas das galáxias elípticas, e portanto os dois tipos devem ter sido formados à mesma época, quando o universo tinha cerca de 1 bilhão de anos. Por alguma razão - possivelmente a quantidade de momemtum angular induzida na nuvem pela distribuição aleatória das condensações na radiação de fundo do universo, refletida na distribuição da matéria escura - as galáxias elípticas formaram todas as suas estrelas em um breve surto, quando elas eram muito jovens, consumindo a maior parte de seu gás, enquanto que nas galáxias espirais a formação estelar ocorreu de forma mais lenta desde o início, preservando parte do gás e continuando a geração de novas estrelas por bilhões de anos.
Galáxias em formação no universo jovem. O objeto marcado com o número 2 está ampliado no canto superior esquerdo da figura, mostrando tratar-se de duas pequenas galáxias se juntando para formar uma galáxia maior. O redshift desse objeto é z=4,88, indicando que sua idade é menos da metade da idade atual do universo. [Crédito: NASA, ESA e N. Pirzkal STScI/ESA) et al.]
No modelo monolítico, a forma das galáxias seria determinada pela rapidez com que aconteceu a formação estelar (taxa de formação estelar) na nuvem em contração, e pela quantidade de rotação (momentum angular) da nuvem. Em nuvens de baixa rotação, a taxa de formação estelar era alta, praticamente todo o gás foi consumido rapidamente e a galáxia resultante é uma elíptica, de forma ovalada e com pouco gás para dar origem a novas estrelas. Em nuvens com alta rotação, a taxa de formação estelar é baixa, parte do gás se deposita em um disco, como consequencia da rotação da nuvem. A galáxia resultante então é uma espiral, com gás suficiente para manter formação estelar até a época atual.
No modelo hierárquico, as pequenas nuvens de gás em contração dariam origem preferencialmente a sistemas puramente discoidais, que evoluiriam a galáxias espirais, se sofressem poucas interações entre si, ou a elípticas, no caso de os encontros e fusões serem muito frequentes. Neste modelo, o o fator determinante para a evolução da galáxia é o meio em que ela se encontra.
Nos últimos 20 anos, o uso de telescópios modernos, que permitem estudar galáxias a grandes distâncias, têm fornecido vários vínculos observacionais para o estudo da evolução das galáxias. Observando galáxias remotas, os astrônomos constataram que que no passado havia um grande número de galáxias pequenas, irregulares e com uma taxa muito alta de formação estelar, que não existem no universo atual, sugerindo que elas se fundiram posteriormente dando origem a galáxias maiores.
Outra observação importante é a de que galáxias espirais são raras em aglomerados densos de galáxias, onde as galáxias elípticas predominam. Essas observações em geral favorecem o modelo hierárquico, pois evidenciam que as estruturas menores se formaram antes das maiores, e que o meio tem influência sobre a evolução das galáxias, pois interações e colisões podem alterar suas morfologias. No entanto, existem contradições, como as indicações de que todas as estrelas de elipticas em uma dada distância (redshift) têm idades similares, o que seriam melhor explicado pelo colapso monolítico, e não por mergers sucessivos.
Portanto, no momento não existe uma teoria que dê conta de todos os aspectos observacionais para explicar como as galáxias se formaram e evoluíram até o presente, muito menos uma teoria que possa prever sua evolução futura. Provavelmente acontece tanto a formação monolítica, em galáxias isoladas, quanto a hierárquica, em aglomerados de galáxias.
Aglomerados de galáxias
Olhando-se fotografias do céu, nota-se facilmente que as galáxias tendem a existir em grupos.Foto do Aglomerado de Hydra e desenho do Grupo Local
Imagem de lentes gravitacionais no cúmulo Abell 2218, fotografado pelo Telescópio Espacial Hubble.
O Grupo Local
O grupo de galáxias ao qual a Via Láctea pertence chama-se
Grupo Local.
É um aglomerado pequeno, com
cerca de 50 membros,
que ocupa um volume de 3 milhões de anos-luz na sua
dimensão maior. A Via Láctea e Andrômeda (M31) são de longe os dois
membros mais massivos, estando um em cada borda do aglomerado.
A terceira galáxia mais luminosa do grupo é outra
espiral, M33, que tem 20% da luminosidade da Via Láctea e
13% da luminosidade de Andrômeda.
Entre os demais membros
existem duas elípticas, M32, satélite de M31, e M110, e várias irregulares e
galáxias anãs.
As Nuvens de Magalhães (Grande Nuvem de Magalhães e Pequena Nuvem de
Magalhães), galáxias irregulares satélites
da nossa Galáxia , também fazem parte
desse grupo.
A Grande Nuvem de Magalhães, localizada a 150 mil anos-luz (46 kpc) da Via
Láctea, era
até 1994 considerada a galáxia mais próxima2.
Desde 2003 foram descobertas
várias galáxias anãs na região do Grupo Local, entre as quais
uma anã
localizada a apenas 25 mil anos-luz de distãncia,
na direção do centro galáctico.
Essa é atualmente a galáxia mais próxima, e só não foi detectada
antes devido a estar numa
região de grande extinção e ter brilho superficial muito baixo.
No total, o grupo local contém pelo menos 3 galáxias espirais, 2 elípticas,
15 galáxias irregulares de diferentes tamanhos, e 17 anãs elípticas.
A maioria das galáxias se encontram orbitando a Via Láctea ou Andrômeda, dando
uma aparência binária ao Grupo Local.
Outros aglomerados de galáxias
Fotografia de parte do cúmulo de Virgem, obtida por David Malin com o UK Schmidt Telescope do ©Anglo-Australian Telescope. O cúmulo contém mais de 2500 galáxias e cobre mais de 5° no céu. A galáxia elíptica brilhante M84 é a que está logo acima do centro e M86 é a elíptica brilhante à direita.
Imagem do centro do aglomerado de galáxias do Fornax, a 15 Mpc de distância e RA=3h 36m, DEC=-35°37m. No centro está a galáxia elíptica tipo E1 NGC 1399. Abaixo desta a E1 NGC 1404 e a esquerda desta a irregular NGC 1427.
A denominação M das galáxias vem de Charles Messier (1730-1817), um buscador de cometas, que em 1781 registrou a posição de 103 objetos extensos (nebulosas) para não confundí-los com cometas.
Superaglomerados
Depois de descobrir que as galáxias faziam partes de aglomerados ou cúmulos de galáxias, os astrônomos se perguntaram se existiam estruturas ainda maiores no Universo. Em 1953, o astrônomo francês Gérard de Vaucouleurs (1918-1995) demonstrou que os aglomerados de galáxias também formam superaglomerados.O superaglomerado mais bem estudado é o Supercúmulo Local, porque fazemos parte dele. Ele tem um diâmetro de aproximadamente 100 milhões de anos-luz e aproximadamente uma massa de cerca de massas solares, contendo o Grupo Local de galáxias, e o cúmulo de Virgem.
Estrutura em Grande Escala
Entre estes superaglomerados observam-se grandes regiões sem galáxias, mas onde foram detectadas nuvens de hidrogênio neutro. Margaret J. Geller (1947-) e John Peter Huchra (1948-), do Center for Astrophysics da Universidade de Harvard, e os brasileiros Luiz Alberto Nicolaci da Costa (1950-) e Paulo Sergio de Souza Pellegrini (1949-), do Observatório Nacional, têm estudado a distribuição de galáxias em grande escala, mostrando que as galáxias não estão distribuídas uniformemente, mas formam filamentos no espaço. Um exemplo destes filamentos é a Grande Parede (Great Wall), um concentração de galáxias que se estende por cerca de 500 milhões de anos-luz de comprimento, 200 milhões de anos-luz de altura, mas somente 15 milhões de anos-luz de espessura. Esta estrutura está a uma distância média de 250 milhões de anos-luz da nossa Galáxia, e tem uma massa da ordem de . Entre estes filamentos estão regiões, de diâmetros de 150 milhões de anos-luz, sem galáxias. A estrutura lembra um esponja. O Sloan Digital Sky Survey continua este mapeamento
Distribuição de galáxias
no espaço, conforme observações de Margaret Geller e John Huchra.
Cada ponto nesta figura representa uma das 9325 galáxias,
na direção do pólos sul e norte da nossa galáxia.
Nossa galáxia está no centro da figura, onde as duas
partes se unem; as regiões não mapeadas são
obscurecidas pelo disco da nossa galáxia.
A Grande Parede é a banda de galáxias
que se estende de lado a lado quase no meio da parte superior
da figura.
Distribuição espacial de 100 mil galáxias próximas determidado pela Busca de Galáxias 6df, na Austrália. Cada galáxia é representada por um ponto. Nossa Galáxia está no centro da distribuição e a faixa onde não foram observadas galáxias indica o disco de nossa Galáxia (Chris Fluke, Centre for Astrophysics and Supercomputing, Swinburne University of Technology).
Colisões entre galáxias
Galáxias em aglomerados estão relativamente próximas umas das outras, isto é, as separações entre elas não são grandes comparadas com seus tamanhos (o espaçamento entre as galáxias é da ordem de apenas cem vezes o seu tamanho, enquanto a distância média entre as estrelas é da ordem de 1 parsec = 22 milhões de diâmetros solares. Isso significa que provavelmente essas galáxias estão em frequentes interações umas com as outras.
Imagem do Telescópio Espacial Hubble da galáxia do girino (tadpole).
Nos catálogos existentes de galáxias peculiares há muitos exemplos de
pares de galáxias
com aparências estranhas que parecem
estar interagindo
uma com a outra. Podemos entender muitos desses casos
em termos de efeitos
de maré gravitacional, que tendem a esticar os objetos na direção de aproximação.
Os efeitos de marés entre pares de galáxias que
passam perto uma da outra foram estudados por
Alar e Juri Toomre (1972, Galactic Bridges and Tails, Astrophysical
Journal, 178, 623;
1973,
Violent tides between galaxies, Scientific American, 229, 38).
Eles assinalaram três propriedades fundamentais
nas interações por maré:
- a força de maré é proporcional ao inverso do cubo da separação entre as galáxias;
- as forças de maré sobre um objeto tende a alongá-lo; assim, os bojos de maré se formam no lado mais próximo e no lado mais distante de cada galáxia em relação à outra;
- as galáxias perturbadas geralmente giravam antes do encontro de maré e a distribuição posterior de seu material deve portanto refletir a conservação de seu momentum angular.
NGC 4038/9: um exemplo clássico de galáxias em colisão.
Molelo calculado por Alar Toomre para uma colisão frontal entre duas galáxias, formando uma galáxia com anel, e uma foto obtida com Telescópio Espacial Hubble da galáxia da roda.
Imagem em 21 cm de M81, a mais brilhante, M82 e NGC 3077, e um modelo de interação de sua formação, obtidos por Min Yun, do National Radio Astronomy Observatory.
Fusão de galáxias e canibalismo galáctico
Se as galáxias colidem com velocidade relativamente baixa, elas podem evitar a disrupção por maré. Os cálculos mostram que algumas partes das galáxias que colidem podem ser ejectadas, enquanto as massas principais se convertem em sistemas binários (ou múltiplos) com pequenas órbitas ao redor uma da outra. O sistema binário recentemente formado encontra-se envolto em um envelope de estrelas e possivelmente matéria interestelar, e eventualmente pode se fundir formando uma única galáxia. Esse processo é especialmente provável nas colisões entre os membros mais massivos de um aglomerado de galáxias, que tendem a ter velocidades relativamente mais baixas. A fusão pode converter galáxias espirais em elípticas.O termo fusão de galáxias é usado em referência à interacção entre galáxias de tamanhos semelhantes. Quando uma galáxia muito grande interage com outra muito menor, as forças de maré da galáxia maior podem ser tão fortes a ponto de destruir a estrutura da galáxia menor cujos pedaços serão então incorporados pela maior. Astrônomos chamam este processo de canibalismo galáctico.
Observações recentes mostram que galáxias elípticas gigantes, conhecidas como galáxias cD, têm propriedades peculiares, tais como: halos muito extensos (até 3 milhões de anos luz em diâmetro), núcleos múltiplos, e localização em centros de aglomerados. Essas propriedades sugerem que essas galáxias se formaram por canibalismo galáctico.
Muitas vezes, o encontro entre as galáxias não é forte o suficiente para resultar em fusão. Numa interacção mais fraca, ambas as galáxias sobrevivem, mas o efeito de maré pode fazer surgirem caudas de matéria, em um ou ambos lados das duas galáxias. Muitas galáxias com aparências estranhas, que não se enquadram em nenhuma das categorias de Hubble, mostram evidências de interações recentes. Simulações por computador mostram que sua forma pode ser reproduzida por interacção de maré, em colisões. Um resultado recente de simulações em computador é a possibilidade de que colisões possam transformar galáxias espirais em elípticas: a interacção pode retirar gás, estrelas e poeira das duas galáxias, transformando-as em uma elíptica. A colisão pode também direcionar grande quantidade de gás ao centro da elíptica resultante, propiciando a criação de um buraco negro.
Quasares
Imagem no ótico do quasar
3C 279,
obtida com o
Canada-France-Hawaii Telescope
de 3,6 m de diâmetro.
O quasar
tem magnitude aparente V=17,75 e magnitude absoluta estimada
de MV=-24,6 (uma estrela O5V tem MV=-5).
O nome vem do fato de ser o objeto
número 279 do terceiro catálogo
de rádio fontes de Cambridge. Pelo módulo de distância,
r=2,951 Gpc.
Os quasares, cujo nome vem de Quasi Stellar Radio Sources, foram
descobertos em 1960,
como fortes fontes de rádio, com aparência ótica aproximadamente
estelar, azuladas.
3C 48 foi a primeira fonte do Third Cambridge Catalogue of
Radio Sources identificada óticamente por
Allan Rex Sandage (1926-2010) e Thomas Matthews in 1960,
através de interferometria
(1963, Optical Identification of 3c 48, 3c 196, and 3c 286 with
Stellar Objects, Astrophysical Journal, 138, 30).
Muito provavelmente
são galáxias com buracos negros
fortemente ativos no centro,
como proposto em 1964 por
Edwin Ernest Salpeter (1925-2008)
e Yakov Borisovich Zel'dovich (1914-1989).
São objetos
extremamente compactos e luminosos, emitindo
mais do que centenas de galáxias juntas,
isto é, até um trilhão de vezes mais do que o Sol.
São fortes fontes
de rádio, variáveis, e seus espectros apresentam linhas
largas com
efeito Doppler indicando que eles estão
se afastando a velocidades muito altas, de até alguns
décimos da velocidade da luz. O primeiro a ter seu espectro identificado
foi 3C 273,
pelo astronomo holandêz Maarten Schmidt (1929-), em 1963
(3C 273: a star-like object with large red-shift, Nature, 197, 1040).
Maarten foi orientando de Oort, em Leiden, em 1956.
Este quasar tem magnitude aparente
V=12,85, mas magnitude absoluta estimada de
Pelo módulo de distância, r=891 Mpc.
O espectro do quasar 3C 273 no ótico e infravermelho próximo é dominado pelas linhas do hidrogênio em emissão e deslocadas para o vermelho (redshifted) por efeito Doppler. Por exemplo, a linha H está deslocada de 4861Å para 5630Å.
Modelo de um quasar, com um buraco negro no centro, um disco de acresção em volta deste, e jatos polares.
Imagens obtidas por John Norris Bahcall (1934-2005) e Mike Disney com o Telescópio Espacial Hubble, da NASA, mostrando que os quasares ocorrem tanto em galáxias normais quanto em galáxias perturbadas. Por exemplo, PG 0052+251 (canto esquerdo superior), a 1,4 bilhões de anos-luz da Terra, reside em uma galáxia espiral normal; PHL 909, a 1,5 bilhões de anos-luz (canto inferior esquerdo), em uma galáxia elíptica; IRAS04505-2958, PG 1212+008, Q0316-346 e IRAS13218+0552, em vários tipos de galáxias em interação.
Região do espectro do objeto que é observado no ótico aqui na Terra.
Em janeiro de 2003, Xiaohui Fan, Michael Strauss, Eva Grebel, Don Schneider e colaboradores do Sloan Survey divulgaram o mais distante quasar até então, com z=6,4, que representa o Universo quando este tinha somente 800 milhõs de anos.
Em 2012, foi descoberta uma galáxia com redshift z=9,6, com o Telescópio Espacial Infravermelho Spitzer e o Telescópio Espacial Hubble. A galáxia está a 13,2 bilhões de anos luz.
Mais de 200 000 quasares foram descobertos com o Sloan Digital Sky Survey, mostrando a variação do espectro com z.
Radiogaláxias
Superposição da imagem ótica (em azul) com a imagem em rádio (em vermelho) da rádio-galáxia 3C219, que está a 500 Mpc. Enquanto a galáxia tem 100 mil anos-luz de diâmetro, os jatos cobrem 1 milhão de anos-luz. À direita, o jato em rádio em torno da galáxia espiral 0313-192 (NASA/NRAO).
Imagem da galáxia peculiar Centauro A, obtida no Cerro Tololo Interamerican Observatory, mostrando um grande anel de massa em torno da galáxia.
Galáxias Seyfert
Foto da galáxia Seyfert Circinus, com dois anéis, um de diâmetro de 1300 anos-luz e outro de 260 anos-luz, obtida com o Telescópio Espacial Hubble.
Objetos BL Lacertae (BL Lac)
Os objetos BL Lacertae, também chamados blazares, constituem uma outra classe de objetos exóticos, que apresentam um núcleo muito brilhante e compacto. Têm como principais características a extraordinária variabilidade em curtos períodos de tempo, luz polarizada, e um espectro não-térmico sem linhas de emissão ou absorção. O primeiro objeto desse tipo, e que deu nome à classe, foi BL Lacertae, observado em 1929, na constelação do Lagarto. No princípio, foi confundido com uma estrela, por seu brilho poder variar por um fator de 15, em poucos meses. Muitos desses objetos são também fontes de rádio, e acredita-se que eles sejam rádiogaláxias, orientadas de forma que a linha de visada fica na direção do jato. Atualmente a maioria dos astrônomos aceita que as diversas formas de galáxias com núcleo ativo, como galáxias Seyfert, quasares e blazares, tenham sua fonte de energia originada no mesmo processo básico: gás sendo acelerado por um buraco negro central, liberando energia potencial na forma de radiação.
Comparação entre diferentes tipos de galáxias ativas
Propriedade | Radiogaláxias | Galáxias Seyfert | Objetos BL Lac | Quasares |
---|---|---|---|---|
Espectro contínuo | não-estelar | não-estelar | não-estelar | não-estelar |
Linhas de emissão | largas e estreitas | largas e estreitas | nenhuma ou fracas | largas e estreitas |
Forma no ótico | elíptica | espiral | incerta | estelar |
Forma em rádio | jatos e lóbulos | emissão fraca | emissão fraca | jatos e lóbulos |
O catálogo de galáxias ativas dos franceses Marie-Paule Véron-Cetty e Philippe Véron, Quasars and Active Galactic Nuclei (12th Ed.), publicado em 2006, contém 85 221 quasares (definidos como objetos mais brilhantes que magnitude absoluta B=-23), 21 737 AGNs (Active Galactic Nuclei, definidos como objetos mais fracos que magnitude absoluta B=-23) e 1122 blazares.
O Catálogo de Galáxias do Data Release 4 do SDSS contém 88 178 galáxias com linhas de emissão.
Em 2004 Scott M. Croom et al. (Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, 349, 1397) publicou o catálogo de espectros de 40 220 quasares observados no hemisfério sul pelo 2dF Galaxy Redshift Survey.
O Quarto Catálogo de Quasares do publicado em 2007, contém 77 429 quasares. O Data Release 7 do Sloan Digital Sky Survey, publicado em out/2008, contém espectros de 929 124 galáxias. As maiores dúvidas sobre as galáxias concentram-se em como elas se formaram, qual é a composição de sua massa escura - que pode corresponder a 85-90% de sua massa total, e porque algumas galáxias parecem ter um buraco negro central que libera uma quantidade colossal de energia.
1Alargamento espectral acontece porque, com estão em movimento aleatório, algumas produzirão um deslocamento das linhas espectrais para o azul e outras para o vermelho. Esses dois deslocamentos, juntos, resultam em um alargamento das linhas. 2Considerando apenas as galáxias grandes e luminosas como a Via Láctea, Andrômeda é a mais próxima, mas incluindo todos os tipos de galáxias, as Nuvens de Magalhães são mais próximas.
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