A
estratigrafia tem como objectivo fundamental estabelecer a evolução
temporal e espacial, bem como a origem das unidades litológica através
da observação das mesmas e das suas propriedades. Concluímos então que a
estratigrafia estuda as relações no espaço e no tempo dos conjuntos
líticos e dos acontecimentos que nele registados, de modo a que, dessa
forma se possa chegar a uma constituição da Historia da Terra.
Ora
para analisar as unidades rochosas e estabelecer correlações
estratigráficas são utilizados métodos estratigráficos, estes podem ser
físicos, químicos ou ainda paleontológicos.
Este breve trabalho aborda um dos métodos físicos, concretamente, a Magnetostratigrafia.
A
Magnetostratigrafia é o método físico que faz o estudo das
características magnéticas das rochas de diferentes idades
(paleomagnetismo), permitindo concluir acerca da polaridade do campo
magnético terrestre aquando da sua formação, sabendo que ciclicamente há
inversões de polaridade no campo magnético do nosso planeta.
O
magnetismo que fica registado nos minerais magnéticos aquando da sua
cristalização ou re-cristalização é chamado “magnetismo remanescente”,
no entanto as rochas apresentam uma segunda magnetização, esta mais
recente que a original, que é imposta pelo campo magnético actual.
Com
a descoberta deste magnetismo “impresso” nas rochas surgiram as
primeiras evidencia da variação do campo magnético terrestre ao longo do
tempo geológico, note-se que estas variações podem ser de alguns graus
ou inversões de polaridade, sendo que a polaridade Normal corresponde à
actual posição dos pólos magnéticos, fazendo coincidir o pólo norte
magnético com o pólo norte geográfico e o mesmo acontecendo com o sul
magnético e o pólo sul geográfico, a polaridade inversa corresponde a
situação oposta, neste caso os fluxos magnéticos invertem-se
dirigindo-se do pólo norte magnético até ao pólo sul magnético.
Para
medir correctamente a magnetização remanescente de uma rocha é
necessário desmagnetiza-la parcialmente, de modo a que, a segunda
magnetização (a mais recente) seja removida para evitar erros. A medição
da magnetização das rochas é possível, no entanto, é um processo
trabalhoso e delicado, este processo, de uma forma simples, compreende
três fases:
1ª Fase:
Desmagnetização – Pretende-se nesta fase desmagnetizar a rocha das
magnetizações posteriores à original, de modo a que os minerais fiquem
apenas com a orientação do campo magnético inicial, a quando da sua
cristalização.
2ª Fase: Consiste na medição da orientação dos minerais magnéticos.
3ª Fase:
Por último, os dados obtidos de cada amostra, cada uma da respectiva
localidade, são submetidos a um tratamento estatístico, indispensável
para tornar os resultados mais fiáveis.
Como
método estratigráfico, a magnetostratigrafia tem a particularidade de
ser utilizada como um excelente critério de correlação, notemos que as
inversões de polaridade quando ocorrem, ocorrem em simultâneo em toda a
Terra, o que quer dizer que as rochas formadas nessa altura têm a mesma
polaridade independentemente da sua distribuição geográfica ou ambiente
em que se encontram. A partir desta excelente característica vemos que é
fácil correlacionar materiais marinhos com continentais, o que não
ocorre com outros métodos, que apenas permitem efectuar estas
correlações separadamente. No entanto, este método por si só não nos dá
informação suficiente, geralmente a magnetostratigrafia (unidade de
polaridade) é associada à biostratigrafia (biozonas) ou à
litostratigrafia (unidades litostratigráficas) para assegurar intervalos
concretos nas secções estratigráficas.
Na
tese de doutoramento do Prof. Doutor Paulo Legoinha, “Biostratigrafia
de Foraminíferos do Miocénico de Portugal” podemos encontrar alguns
exemplos concretos da utilização da magnetostratigrafia como método de
correlação, as investigações do paleomagnetismo são comuns para efectuar
uma descrição e enquadramento geológico de várias zonas, como no corte
da Foz da Fonte (Península de Setúbal) em que foram identificadas duas
zonas de polaridade normal e posteriormente atendendo a dados
biostratigráficos e a datações isotópicas estabeleceu-se uma correlação
com zonas cronostratigráficas definidas, C6 e C5E (Berggren, 1985); na
descrição do Penedo Sul a magnetostratigrafia também foi utilizada, no
entanto neste caso os resultados não foram tão positivos, de 31 amostras
apenas foi possível determinar a polaridade magnética de 3 delas. No
Pica Galo (Trafaria), foi identificada uma zona de polaridade magnética
positiva que foi posteriormente correlacionada com uma zona de anomalia,
C5Dn (SpieB, 1990), da escala de polaridade magnética global.
De
modo a compreender este método e as suas aplicações de uma forma mais
prática, apresenta-se uma breve e sucinta análise de uma tese de
doutoramento com o tema “Magnetostratigrafia e análise espectral de
ritmitos permocarboníferos da Bacia do Paraná: influências dos ciclos
orbitais no regime deposicional”, publicada na Revista Brasileira de
Geofísica. O objectivo desta tese é investigar a escala temporal
envolvida na deposição de ritmitos (rochas sedimentares)
permocarboniferos da bacia do Paraná – Brasil, através de dados
paleomagnéticos e anisotropia de susceptibilidade magnética
(característica que consiste na variação magnética provocada pelas
variações de direcção). Para efectuar os estudos necessários foram
utilizadas várias técnicas, para a investigação mineralógica magnética
as técnicas usadas foram curvas termomagnéticas, espectroscopia Mössbauer (uso do efeito de Mössbauer na identificação de espécies químicas usando radiação gama), curvas de histerese (a histerese é a tendência que um material ou sistema tem, de conservar suas propriedades na ausência de um estímulo que as gerou) e ZFC/FC, para além das habituais microscopia óptica e electrónica.
Os
dados paleomagnéticos e de anisotropia de susceptibilidade magnética
permitiram a composição de séries temporais, que posteriormente foram
submetidas à análise espectral. Os espectros de potência resultantes
foram posteriormente comparados com os espectros de séries de espessura
individual das unidades litológicas, o que possibilitou a investigação
de sinais harmónicos, sobre a qual foram propostas deduções a respeito
das escalas temporais de sedimentação. Esta etapa do trabalho iniciou
algumas conclusões, revelou escalas de milhares de anos para o domínio
do tempo nos espectros de potência, indicando o registo dos ciclos
orbitais ou variação de Milankovitch (variação que ocorre periodicamente, fazendo com que a radiação solar chegue de forma diferente em cada hemisfério terrestre de tempos em tempos),
bem como uma quase periodicidade associada à variabilidade solar para
todas as análises. Os estudos paleomagnéticos revelaram componentes de
magnetização estáveis, com indicações de que a magnetização remanescente
se deve a minerais magnéticos como a magnetite e a hematite de origem
detrítica. A componente de magnetização característica, em ambos os
casos particularmente estudados, é de polaridade inversa, e foi
identificada nos dois portadores magnéticos principais. Finalmente, este
conjunto de dados sugere o carácter não anual da deposição dos
ritmitos, ao contrário do proposto por alguns autores. O pólo
paleomagnético calculado para as duas secções estudadas é compatível,
indicando que o intervalo de tempo envolvido na deposição dos sedimentos
é suficientemente longo para eliminar os efeitos da variação secular do
campo magnético terrestre. Nesta tese foram ainda obtidas algumas
conclusões adicionais, não consideradas para este trabalho.
Referencias Bibliograficas:
· Torres, J. A. V. 1994, Estratigrafia, Princípios y métodos, Editorial Rueda, S.L.,Madrid
· Legoinha, Paulo 2001, “Biostratigrafia de Foraminíferos do Miocénico de Portugal” - http://run.unl.pt/handle/10362/1865 (Ficheiro PDF)
· Franco, Daniel Ribeiro,
“Magnetostratigrafia e análise espectral de ritmitos permocarboníferos
da Bacia do Paraná: influências dos ciclos orbitais no regime
deposicional” - http://www.scielo.br/pdf/rbg/v26n2/a12v26n2.pdf
· http://www-odp.tamu.edu/publications/120_SR/VOLUME/CHAPTERS/sr120_40.pdf
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