Como Classificar os Organismos
Os humanos sempre sentiram necessidade de agrupar os organismos na
natureza, a fim de compreender a diversidade biológica e facilitar seu
estudo.
O mais conhecido Sistema de Classificação dos seres vivos foi
proposto por Carolus Linnaeus em meados do século 18. Ele criou o que
chamamos de Sistemática Clássica, que utiliza de todas as
características observadas num determinado organismo para classificá-lo
dentro de categorias taxonômicas organizadas numa hierarquia. A
Sistemática Clássica é responsáevel pela criação de Reinos, Classes,
Ordens, e fundamentalmente, Gêneros e Espécies.
A Sistemática Clássica exigia muita experiência do cientista para
avaliar quais as características dos organismos que deveriam ser
utilizadas para sua identificação. Esta escolha era um tanto subjetiva e
não poderia ser repetida através de uma metodologia específica, já que
não possuía métodos matemáticos objetivos para a obtenção das relações
filogenéticas entre os organismos, ficando a intuição do cientista
encarregada de classificar os organismos estudados dentro desta ou
daquela categoria taxonômica.
Por volta de 1959, um entomólogo alemão chamado Willi Hennig criou
a Sistemática Filogenética, que começou a ser utilizada depois da
publicação dos seus princípios, em inglês, em 1966.
No início da década de 1970, esta passou a competir diretamente
com a Sistemática Clássica, gerando acaloradas discussões em quase todos
os congressos de Ciências Biológicas da época. Já na década de 1980, a
Sistemática Filogenética e sua respectiva metodologia atingiram o status
de paradigma, ou seja, o sistema mais aceito para classificar os
organismos.
Mas como pode ser usada a Sistemática Filogenética? Ela difere da
Sistemática Clássica em alguns princípios básicos. Por exemplo, só devem
ser utilizadas características exclusivas do grupo em questão,
eliminando as características compartilhadas com outros grupos, surgindo
assim a idéia de caráter derivado.
A utilização apenas dos caracteres derivados privilegia a
novidade evolutiva (apomorfia) que cada grupo apresenta e elimina muitos
aspectos compartilhados com outros grupos.
Por exemplo, dizer que um artrópode se caracteriza por possuir um
cordão nervoso ventral, não o distingue de todos os outros organismos
protostômios, pois os anelídeos também apresentam esta característica.
Assim, o cordão nervoso ventral é uma simplesiomorfia em artrópodes, ou
seja, um caráter primitivo compartilado. Já a presença de apêndices
articulados revestidos por um exoesqueleto é uma característica
exclusiva dos artrópodes e, portanto, uma sinapomorfia ou caráter
derivado compartilhado.
A Sistemática Filogenética identifica e reúne os caracteres
derivados em uma matriz de dados. Nesta matriz, as características
precisam ser polarizadas, ou seja, aquelas que mais se parecem com o
ancestral recebem o número 0 e as mais derivadas recebem números
subseqüentes (1, 2, 3, etc.). Esse processo é feito comparando os grupos
da análise com um ou mais grupos externos. A escolha do grupo externo
também segue alguns princípios previstos na metodologia, embora, em
síntese, possa ser qualquer outro organismo vivo. Abaixo, estã
representados três táxons (A, B, C) de um grupo hipotético de animais
comparados ao táxon que representa o grupo-externo.
Característica "dedos nas patas": 0 = ausentes; 1 = presentes.
Característica "antenas": 0 = ausentes; 1 = presentes.
A matriz de dados ilustra a transformação dos estados desses dois
caracteres nos três táxons (A, B e C). Os caracteres listados
correspondem a ausência ou presença de dedos nas patas e de antenas
nesses animais.
Matriz de Dados e polarização dos caracteres:
Através de procedimentos matemáticos (algoritmo), com o uso de
programas para computador (Hennig 86, PAUP, TNT), produz-se árvores
filogenéticas ou cladogramas, que representam as relações de parentesco
dos organismos analisados, ou seja, as relações filogenéticas.
Exemplo de árvore filogenética (cladograma) gerada a partir da análise da matriz de dados.
O cladograma acima apresenta dois passos (L), ou seja, cada
caráter mudou de estado apenas uma vez . O caráter 1 mudou do estado
zero para o estado 1, o que significa um passo, e o caráter dois mudou
de zero para um, mais um passo no cladograma (caráter 1: 0 → 1 e carter
2: 0 → 1 / L= 2).
Se o número de características e de grupos analisados for pequeno,
esse procedimento pode ser feito manualmente, sem a ajuda de um
programa de computador. No entanto, quando o número de táxons (grupos) e
caracteres é grande, os programas auxiliam o pesquisador a encontrar as
árvores com o menor número de passos evolutivos, seguindo o Princípio
da Parcimônia. Isto significa escolher a árvore que apresenta melhor
resolução.
A Sistemática Filogenética nunca parte do princípio de que o
exemplar em mãos é o ancestral e sim apenas um táxon relacionado (com
certo grau de parentesco) aos demais estudados.
Conceitos da Sistemática Filogenética
Grupo monofilético:
Grupo que inclui o ancestral e todos os seus descendentes.
Exemplo de grupo monofilético.
Clado:
É a denominação destes grupos, daí o nome Cladismo também aplicado a esta escola.
Cladograma ou Árvore Filogenética:
É o diagrama que representa as relações filogenéticas entre os clados.
Grupo parafilético:
Grupo que possui um ancestral comum, mas não inclui todos os seus descendentes.
Grupo-irmão:
É o grupo monofilético mais próximo daquele em foco no momento.
Exemplo de grupos-irmãos.
A forma de classificação dos organismos sofreu uma profunda
modificação nas últimas quatro décadas, em função do advento da
Sistemática Filogenética.
Entretanto, o método possui várias limitações, que no momento não
podem ser contornadas. Uma dessas limitações, principalmente em
paleontologia, refere-se às características utilizadas na análise. Para
classificar organismos atuais, caracteres como cor, por exemplo, podem
ser utilizados. No entanto, nos fósseis, essas características não ficam
preservadas, inviabilizando o uso das mesmas.
Mesmo assim, o uso deste método se tornou generalizado, uma vez
que preenche todos os requisitos necessários para ser considerado
científico, não sendo mais aceitável hoje em dia apresentar filogenias
idealizadas, como faziam os sistematas clássicos.
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