A corrida imobiliária desenfreada e os novos assentamentos urbanos estão, cada vez mais, colocando o homem e a natureza em risco.
À medida que contruimos em locais de encostas íngremes, em terrenos de grande instabilidade, nos flancos das grandes elevações, nas proximidades da planície aluvial de rios ou nas áreas de influência de córregos e drenagens estaremos correndo o risco de perder os nossos investimentos e as nossas vidas.
Estas são áreas onde os deslizamentos de terra se sucedem ao longo dos anos.
A cada ano, invariavelmente, as notícias se repetem. Sempre nas épocas das chuvas os escorregamentos em áreas urbanas com forte declividade são responsáveis por inúmeras tragédias como a que vimos ocorrer em Angra dos Reis e na Ilha Grande, na virada do ano de 2009.
A grande ironia é que todos esses dramas e suas danosas consequências são, quase sempre, totalmente previsíveis e, muitas vezes, evitáveis.
O nosso objetivo, neste artigo, não é discutir as soluções, contenções, muros de arrimo, terraços, estudos preventivos, mapeamentos das áreas de risco, implementação de leis e soluções que funcionem mas sim o de informar se você, a sua família ou o seu prédio estão em perigo por estarem em uma área de risco de escorregamento.
Abaixo discutirei os principais pontos que deverão ser utilizados em uma avaliação de risco preliminar com ênfase em desmoronamentos e deslizamentos. Saiba avaliar o perigo que você e sua família estão correndo.
Veja, com cuidado a lista abaixo e identifique o seu nível de risco. Se ele for alto não hesite em contactar a defesa civil e geólogos ou engenheiros especializados no assunto. Se estiver chovendo forte, em áreas de elevado risco, o melhor a fazer é simplesmente abandonar a sua residência até que um especialista tenha visitado a área e que um laudo sobre a segurança do imóvel tenha sido elaborado.
Esta é uma decisão difícil, mas se usada de uma forma consciente e racional deverá salvar vidas preciosas. A sua vida vale muito: não a desperdice.
Responda as seguintes perguntas e entenda o seu risco:
- O seu imóvel está situado em terreno de alta declividade? Este é o ponto fundamental que deve ser avaliado. A declividade e a instabilidade potencial da encosta. Se você tiver dúvidas quanto a este ponto procure a opinião de especialista. Se as inclinações da encosta onde você mora forem muito acentuadas pode existir o perigo de deslizamentos. O risco aumenta a medida que as próximas perguntas sejam verdadeiras.
- Existe algum córrego ou, vale descendo a encosta, nas proximidades?
- Já houve escorregamentos recentes na região, em áreas similares a sua?
- Existem rochas roladas, matacões ou blocos que possam indicar um transporte por gravidade? Esses blocos acumulados, geralmente sem uniformidade, no fundo das encostas, podem estar indicando que houveram deslizamentos no passado.
- Existe algum corte efetuado no solo que possa aumentar o ângulo natural da declividade? Cortes verticais em solos instáveis irão aumentar, drasticamente, o risco de desmoronamentos.
- Existem áreas com lajedos com grande declividade, sem ou com pouca cobertura de solos, acima da sua residência ou na região? É comum em montanhas como as da região do Rio de Janeiro, vermos lajedos nus com grande declividade. Possivelmente eles foram expostos após grandes deslizamentos. Veja a foto do desastre da Ilha Grande onde, após o deslizamento, foi exposto um grande lajedo. Nas partes superiores existem outros lajedos mais antigos, parcialmente cobertos por vegetação mais recente, que mostravam claramente a periculosidade da encosta onde ocorreu o desastre.
- É possível notar que em certas áreas da encosta existe uma vegetação mais nova, diferente da vegetação mais antiga circundante? Em caso de deslizamentos antigos a vegetação nova irá demarcar, com boa precisão a área afetada.
- Existem, nas encostas próximas a sua casa, um bom número de árvores que estejam inclinadas em direção morro abaixo? As árvores devem estar em sua grande maioria verticalizadas. Se uma área apresenta suas árvores com inclinação anômala isso pode significar um deslizamento incipiente ou antigos movimentos de terra.
- A área já foi avaliada por geólogos especializados em geo-engenharia que confirmaram a inexistência de risco de deslizamento?
- Existe um estudo de risco da sua área feito pela Prefeitura ou órgão competente demonstrando o baixo risco de desmoronamentos e deslizamentos?
- Existem obras de contenção específicas acima e abaixo de seu imóvel?
- Existem obras para evitar a infiltração da água nos solos acima e abaixo de seu imóvel?
- Existem sistemas de controle de águas superficiais?
- Existem árvores com raízes profundas nas proximidades que possam dar maior estabilidade ao solo?
Observe com atenção, informe as autoridades e salve vidas:
Nas próximas fotos iremos mostrar que é possível identificar com bastante precisão o risco de deslizamentos de uma dada região.
Vista do deslizamento da Ilha Grande onde existia a Pousada Sankay, mostrando a formação do lajedo exposto pelo deslizamento. A área era de alto risco por estar situada em encosta muito íngreme onde vários deslizamentos já haviam ocorrido no passado. Na parte superior da foto é possível ver os lajedos expostos antigos, cobertos por vegetação rasteira, mais recente que mostram claramente a existência de antigos deslizamentos. A área era, visivelmente perigosa. TRabalhos de contenção deveriam ter sido feitos para evitar a tragédia que acabou ocorrendo. Na foto é possível ver onde irão ocorrer os próximos deslizamentos que, poderão ocorrer em muito breve, já que uma boa parte do solo que sustentava a encosta não mais existe. |
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Veja os blocos rolados que despencaram com o deslizamento de Sankay. Essa mesma situação é visível em muitas encostas onde houveram antigos deslizamentos e deve servir como um sinal evidente de que a área é insegura. |
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Na foto da Pousada Sankay em Angra, antes do desastre, é possível ver grande quantidade de blocos rolados que possivelmente foram deslocados e transportados em deslizamentos antigos. Muitos desses deslizamentos antigos podem ter ocorrido a décadas ou mesmo a centenas de anos. Estes blocos atestam que a região é propícia a ter deslizamentos e, como tal, deveriam haver trabalhos de contenção de encostas que poderiam, se existissem, ter evitado esta perda de vidas e de patrimônio. |
Vista de satélite (Google Earth) da Ilha Grande na região da Pousada Sankay onde ocorreu o desastre . São claros os lajedos expostos após antigos deslizamentos. Na encosta acima da Pousada Sankay é visível um bom número de antigos deslizamentos que estavam confirmando o alto risco de acidentes em toda a encosta imediatamente abaixo. Todas estas encostas de alta declividade, abaixo desses lajedos, são de altíssimo risco de deslizamentos de terra e devem ser estudadas por especialistas imediatamente. Não há como evitar: trabalhos de contenção de encostas deverão ser feitos ou mais vidas irão se perder nas próximas chuvas. |
Foto de satélite da comunidade do Abrão na Ilha Grande mostrando o perigo potencial de deslizamentos em áreas urbanas. Na foto são visíveis os antigos deslizamentos. Trata-se de uma bomba-relógio que poderá explodir a qualquer momento. É preciso que as autoridades iniciem estudos rápidos e eficientes para evitar mais acidentes. |
Use os pontos listados acima e avalie o seu risco.
Os deslizamentos em encostas íngremes sempre existirão. Não há como evitar. O que podemos evitar é a morte de mais pessoas.
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