domingo, 25 de agosto de 2013

Deslizamentos que matam: veja se você e a sua família correm perigo


A corrida imobiliária desenfreada e os novos assentamentos urbanos estão,  cada vez mais, colocando o homem e a natureza em risco.
À medida que contruimos em locais de encostas íngremes, em terrenos de grande  instabilidade, nos flancos das  grandes elevações, nas proximidades da planície aluvial de rios ou nas áreas de  influência de córregos e drenagens estaremos correndo o risco de perder os  nossos investimentos e as nossas vidas.
Estas são áreas onde os deslizamentos de terra se sucedem ao longo dos anos.
A cada ano, invariavelmente, as notícias se repetem. Sempre nas épocas das  chuvas os escorregamentos em áreas urbanas com forte declividade são  responsáveis por inúmeras tragédias como a que vimos ocorrer em Angra dos Reis e  na Ilha Grande, na virada do ano de 2009.
A grande ironia é que todos esses dramas e suas danosas consequências são,  quase sempre, totalmente previsíveis e, muitas vezes, evitáveis.
O nosso objetivo, neste artigo, não é discutir as soluções, contenções,   muros de arrimo, terraços, estudos  preventivos, mapeamentos das áreas de risco, implementação de leis e soluções que funcionem  mas sim o de informar se você, a sua família ou o seu prédio estão em perigo por  estarem em uma área de risco de escorregamento.
Abaixo discutirei os principais pontos que deverão ser utilizados em uma  avaliação de risco preliminar com ênfase em desmoronamentos e deslizamentos.  Saiba avaliar o  perigo que você e sua família estão correndo.
Veja, com cuidado a lista abaixo e identifique o seu nível de risco. Se ele  for alto não hesite em contactar a defesa civil e geólogos ou engenheiros  especializados no assunto. Se estiver chovendo forte, em áreas de elevado risco,  o melhor a fazer é simplesmente abandonar a sua residência até que um especialista tenha visitado  a área e que um laudo sobre a segurança do imóvel tenha sido elaborado.
Esta é uma decisão difícil, mas se usada de uma forma consciente e racional  deverá salvar vidas preciosas. A sua vida vale muito: não a desperdice.
Responda as seguintes perguntas e entenda o seu risco:
  1. O seu imóvel está situado em terreno de alta declividade?  Este é o ponto fundamental que deve ser avaliado.  A declividade e a instabilidade potencial da encosta. Se você tiver dúvidas  quanto a este ponto procure a opinião de especialista. Se as inclinações da  encosta onde você mora forem muito acentuadas pode existir o perigo de  deslizamentos. O risco aumenta a medida que as próximas perguntas sejam   verdadeiras.
  2. Existe algum córrego ou, vale descendo a encosta, nas proximidades?
  3. Já houve escorregamentos recentes na região, em  áreas similares a  sua?
  4. Existem rochas roladas, matacões ou blocos que possam indicar um  transporte por gravidade? Esses blocos acumulados, geralmente sem  uniformidade, no fundo das encostas, podem estar indicando que houveram  deslizamentos no passado.
  5. Existe algum corte efetuado no solo que possa aumentar o ângulo natural  da declividade? Cortes verticais em solos instáveis irão aumentar,  drasticamente, o risco de desmoronamentos.
  6. Existem áreas com lajedos  com grande declividade, sem ou com pouca  cobertura de solos, acima da sua residência ou na região? É comum em montanhas como as da  região do Rio de Janeiro, vermos lajedos nus com grande declividade.  Possivelmente eles foram expostos após grandes deslizamentos. Veja a foto do  desastre da Ilha Grande onde, após o deslizamento, foi exposto um grande  lajedo. Nas partes superiores existem outros lajedos mais antigos,  parcialmente cobertos por vegetação mais recente,  que  mostravam claramente a periculosidade da encosta onde ocorreu o desastre.
  7. É possível notar que em certas áreas da encosta existe uma vegetação  mais nova, diferente da vegetação mais antiga circundante? Em caso de  deslizamentos antigos a vegetação nova irá demarcar, com boa precisão a área  afetada.
  8. Existem, nas encostas próximas a sua casa, um bom número de árvores que  estejam inclinadas em direção morro abaixo? As árvores devem estar em sua  grande maioria verticalizadas. Se uma área apresenta suas árvores com  inclinação anômala isso pode significar um deslizamento incipiente ou  antigos movimentos de terra.
Pontos que podem atenuar o risco:
  1. A área já foi avaliada por geólogos especializados em  geo-engenharia que confirmaram a inexistência de risco de deslizamento? 
  2. Existe um estudo de risco da sua área feito pela Prefeitura ou órgão  competente demonstrando o baixo risco de desmoronamentos e deslizamentos?
  3. Existem obras de contenção específicas acima e abaixo de seu imóvel?
  4. Existem obras para evitar a infiltração da água nos solos acima  e abaixo de seu  imóvel?
  5. Existem  sistemas de controle de águas superficiais?
  6. Existem árvores com raízes profundas nas proximidades  que possam dar maior estabilidade ao solo?
Se as suas respostas indicarem que a área onde mora é de alto  risco fale com um especialista imediatamente. Se as chuvas estiverem intensas  evite permanecer no local enquanto a área não for liberada por especialistas.
Observe com atenção, informe as autoridades e salve  vidas:
Nas próximas fotos iremos mostrar que é possível identificar  com bastante precisão o risco de deslizamentos de uma dada região.
 
Vista do deslizamento da Ilha Grande  onde existia a Pousada Sankay,  mostrando a formação do lajedo exposto pelo deslizamento. A área era de alto risco por estar situada em encosta muito  íngreme onde vários deslizamentos já haviam ocorrido no passado. Na parte superior da foto é possível ver os lajedos expostos antigos, cobertos por vegetação  rasteira, mais recente que mostram claramente a existência de  antigos deslizamentos. A área era, visivelmente perigosa. TRabalhos de  contenção deveriam ter sido feitos para evitar a tragédia que acabou ocorrendo. Na foto  é possível ver onde irão ocorrer os próximos deslizamentos que, poderão  ocorrer em muito breve, já que uma boa parte do solo que sustentava a  encosta não mais existe.
 
Veja os blocos rolados que  despencaram com o deslizamento de Sankay. Essa mesma situação é visível  em muitas encostas onde houveram antigos deslizamentos e deve servir  como um sinal evidente de que a área é insegura.

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Na foto da Pousada Sankay em Angra, antes do desastre,  é possível ver grande quantidade de blocos rolados que possivelmente  foram deslocados e transportados em deslizamentos antigos. Muitos desses  deslizamentos antigos podem ter ocorrido a décadas ou mesmo a centenas  de anos. Estes blocos atestam que a região é propícia a ter  deslizamentos e, como tal, deveriam haver trabalhos de contenção de  encostas que poderiam, se existissem, ter evitado esta perda de vidas e  de patrimônio.

 
Vista de satélite (Google Earth) da Ilha  Grande na região da Pousada Sankay onde ocorreu o desastre .  São claros os lajedos expostos após antigos deslizamentos.   Na encosta acima da Pousada Sankay é visível um bom número de antigos  deslizamentos que estavam confirmando o alto risco de acidentes em toda  a encosta imediatamente abaixo.  Todas estas encostas de alta declividade, abaixo desses  lajedos, são de altíssimo risco de deslizamentos de terra e devem ser estudadas por  especialistas imediatamente. Não há como evitar:  trabalhos de  contenção de encostas deverão ser feitos ou mais vidas irão se perder nas próximas chuvas.

 
Foto de satélite da comunidade do Abrão na Ilha  Grande  mostrando o perigo potencial de deslizamentos em áreas urbanas.  Na foto são visíveis os antigos deslizamentos. Trata-se de uma  bomba-relógio que poderá explodir a qualquer momento. É preciso que as  autoridades iniciem estudos rápidos e eficientes para evitar mais  acidentes.
O fato é que os sinais de perigo são bastante aparentes e, a  maioria das pessoas, pode identificá-los se observarem, com cuidado, a região  onde moram.
Use os pontos listados acima e avalie o seu risco.
Os deslizamentos em encostas íngremes sempre existirão. Não  há como evitar. O que podemos evitar é a morte de mais pessoas.

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