Qual a idade do planeta Terra? Como
determinar a idade de uma rocha ou dos seus minerais? A
geocronologia é a ciência que estuda métodos de determinar o
tempo geológico, registrado nas rochas.
Durante a existência do ser humano,
várias maneiras de se "contar" o tempo geológico foram
idealizadas. As primeiras propostas, anteriores ao Iluminismo
e à revolução industrial, eram baseadas nas escrituras
bíblicas e promulgavam que a Terra teria aproximadamente
6.000 anos. O Arcebispo Usher (1581-1656), declarou que a
Terra teria sido criada na noite anterior ao dia 23 de Outubro,
um Domingo, do ano 4004 antes de cristo.
Com o avanço da ciência outros meios
foram aventados para se calcular a idade da Terra. Uma delas
foi calcular o tempo necessário para que o mar se tornasse
salgado, pressupondo que este teria sido doce no início e
que o sal teria sido levado pelos rios, a partir da dissolução
das rochas aflorantes nos continentes. O cálculo obtido em 1899
indicou que a água do mar teria cerca de 90 milhões de
anos. Mas, com o tempo, os pesquisadores descobriram que o sal das
rochas não vai diretamente para o mar, ou seja, o mar não é
a fase final, ele pode ser reciclado. Além disso, descobriram
também que o sal do mar também é proveniente do
manto e que a salinidade da água do mar é constante no tempo.
Houve ainda outras tentativas, como:
- calcular o tempo através da espessura das camadas de areia, desde que se soubesse quanto tempo leva para formar uma camada de determinado tamanho (taxa de sedimentação). Contudo este método está prejudicado, pois não há registro preservado que contenha todas as camadas de areias empilhadas desde o princípio da Terra, face à dinâmica transformadora do planeta e a taxa de sedimentação não é constante no tempo.
- calcular o tempo pela perda de calor da Terra (Estimativas de Lord Kelvin). Os pesquisadores observaram que em minas profundas o calor era maior do que na superfície e que, portanto, havia uma perda de calor. Essa perda deve ter acompanhado toda a história da Terra, começando com as rochas fundidas. O problema é que ainda não se tinha conhecimento suficiente de ponto de fusão da crosta, nem das altas pressões que atuam no interior da Terra e nem do calor interno gerado pelo decaimento radioativo (ver adiante). Assim esta estimativa de tempo não era real.
Todos
esses meios de estimar a idade da Terra (séculos XVI e XVII)
não passavam de 100 milhões de anos e não contribuíam
para a aceitação da então nova teoria da origem das
espécies de Charles Darwin (1809-1882), pois uma Terra jovem
(100 milhões de anos) não poderia ter mantido a longa
estabilidade que Darwin julgava necessária para a evolução
gradual das espécies e sua diversificação.
Atualmente, existem dois modos de saber o quão velha é uma rocha:
O método relativo observa a
relação temporal entre camadas geológicas, baseando-se nos
princípios estratigráficos de Steno (1669) e Hutton (1795).
Por exemplo, a presença de fósseis, onde se conhece o
período de tempo de existência dos mesmos, pode-se indicar a
idade da camada geológica em que o fóssil foi encontrado e
por relação, indicará que a camada que está abaixo dessa é
mais velha e a camada que está por cima é mais nova.
O método absoluto utiliza os
princípios físicos da radioatividade e fornece a idade da
rocha com precisão. Esse método está baseado nos princípios
da desintegração (ou decaimento) radioativa. Desta maneira, o
uso desse método, só foi possível depois da descoberta da
radioatividade (1896), no final do século XIX. Em 1911,
Arthur Holmes, publicou um trabalho sobre datação
radioativa. Dentre os elementos químicos existentes, há
alguns que possuem o núcleo do átomo instável e são
conhecidos como nuclídeos radioativos. Estes elementos,
através da emissão espontânea de radiação, se transformam em
elementos estáveis (nuclídeos radiogênicos). Dessa maneira o
elemento-pai (radioativo) se desintegra emitindo radiação e
se transforma no elemento-filho (radiogênico), como o 87Rb quando se transforma em 87Sr.
Há dois pontos importantes que permitem o cálculo da idade absoluta de uma rocha ou mineral:
- as rochas são formadas por minerais, os quais são constituídos por elementos químicos e alguns desses, por sua vez, são nuclídeos radioativos;
- o conceito de decaimento radioativo envolve uma constante chamada meia-vida, que é o tempo decorrido para que metade da massa do elemento-pai se transforme no elemento-filho. Essa constante é conhecida e diferente para cada nuclídeo radioativo existente (Tabela 1, Figura 1).
Cada
grão mineral é um crônometro do tempo geológico,
assim que ele se forma, tem início o decaimento radioativo. Sendo
assim, determinando-se a quantidade de elemento-pai e de
elemento-filho em um mineral hoje, é possível saber há quanto
tempo está acontecendo o decaimento radioativo e, portanto
quando o mineral se formou.
Mas como os pesquisadores fazem para
separar e extrair os elementos-pai e -filho da rocha, para
quantificá-los? A rocha tem que ser dissolvida, transformada
em líquido. A maneira mais rápida e eficiente é aumentando a
superfície de contato da rocha, pulverizando a amostra
(Figura 2) e dissolvendo-a com ácido, além de utilizar chapas
aquecedoras que aumentem a velocidade da reação.
Depois
da rocha ter sido dissolvida, as ligações químicas
que existem dentro dos minerais que a formam terão sido quebradas
e os elementos, inclusive os radioativos, ficarão na forma de
íons em solução, ou seja, separados e "imersos" em
uma solução ácida (Figura 3). Dessa maneira fica mais fácil
extrair os elementos-pai e -filho que serão analisados e
medidos. Cada elemento químico tem uma característica
físico-química diferente, se comportando de maneira variada
em função da condição do ambiente (ácido, muito ou pouco
ácido e básico). Utilizando essas propriedades, os elementos
de interesse são separados e extraídos da solução inicial.
O
próximo passo é levar os elementos, que agora estão
individualizados em uma outra solução, para um aparelho,
que se chama Espectrômetro de Massa (Figura 4), no qual cada
elemento separado será medido. Depois, então, os cálculos
baseados na meia-vida do elemento radioativo são feitos e a
idade da rocha é obtida. O Centro de Pesquisas Geocronológicas
da USP (CPGeo) faz datações de rocha pelo método
absoluto desde 1964.
A idade da Terra foi calculada pelo método absoluto e indica
que o nosso planeta tem 4,56 bilhões de anos, portanto bem
mais velho do que os estudiosos antigos imaginavam. Porém o
registro mais antigo do planeta, determinado em cristais
contidos em rocha, tem 4,4 bilhões (Austrália). A Terra está
em constante mudança. Sua crosta está continuamente sendo
criada, modificada e destruída (saiba mais sobre o ciclo das
rochas). Como resultado, rochas que registram a história
embrionária do planeta não foram encontradas e provavelmente
não existem mais. Portanto, a idade da Terra não pode ser
obtida diretamente de material terrestre.
Então
como saber que a Terra tem essa idade? Os cientistas presumem que todos
os corpos do Sistema Solar (Figura 5) se formaram na mesma
época, inclusive os meteoritos (provenientes do cinturão de
asteróides). Sendo assim, como os meteoritos são corpos
extraterrestres que caem na superfície da Terra, eles podem
ser datados e sua idade é a mesma da formação do planeta, ou
seja, 4,56 bilhões de anos. Esta idade foi determinada, pela
primeira vez, por Claire Patterson em 1956, usando os
isótopos de chumbo (Pb).
Nos
Estados Unidos existem correntes religiosas que ainda
defendem a idade de 6000 anos para a Terra e lutam para que
isso seja ensinado nas escolas, juntamente com a teoria
criacionista (Deus é criador do Homem e do Planeta, como
está escrito na Bíblia), em detrimento à teoria da evolução
de Darwin, que com o método absoluto de datação e uma Terra
com bilhões de anos, se torna incontestável.
Fonte: Instituto de Geociencias da USP
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