Sendo um entusiasta em números, apresento a vocês alguns
comentários sobre o Último Teorema de Fermat de uma forma descontraída e
sem muito formalismo. Quem sabe em um próximo post, eu comento sobre
curvas elípticas, teorema de Tanyama-Shimura, etc. Mas para os leitores
mais curiosos recomendo que leia o livro O Último Teorema de Fermat do
Simon Singh.
O Último Teorema de Fermat afirma que se é um número natural maior que , a equação
O Último Teorema de Fermat afirma que se é um número natural maior que , a equação
não possui soluções para , e inteiros não-negativos (soluções não-triviais).
Este
problema surgiu para Fermat quando ele se encontra à margem da página
em que Diofanto estuda o problema de encontrar inteiros , e tais que e acha infinitas soluções. Lá, Fermat escreveu o seguinte:
"Por
outro lado, é impossível separar um cubo em dois cubos, ou um
biquadrado em dois biquadrados, ou em geral qualquer potência maior que a
segunda em potências do mesmo grau; descobri uma demonstração
realmente maravilhosa deste fato que esta margem é pequena demais para
conter".
Com
a morte de Fermat, houve grande preocupação em preservar seu trabalho
matemático. Assim, a maioria das cartas foram publicadas, inclusive uma
edição do livro de Diofanto com suas anotações. A mais famosa destas
anotações que Fermat havia feito nas margens deste livro é esta
conjectura.
De
início, esta conjectura não parece ter atraído tanta atenção. Mas
várias asserções foram demonstradas, especialmente após Euler ter
interessado pelo assunto, ficando apenas esta conjectura. Por isso, ela
ficou conhecida como o "Último Teorema de Fermat" - não o último a ser
proposto, mas o único que esperava uma demonstração.
Em , após anos que Pierre de Fermat propôs este problema, o matemático inglês Andrew Wiles
finalmente provou a afirmação para todos os naturais. O próprio Andrew
detectou um pequeno erro em sua solução e após dois anos, ele publica a
sua versão final corrigida com mais de páginas com muita matemática avançada.
Muitos
casos particulares do Último Teorema de Fermat foram resolvidos por
grandes matemáticos tais como Leonhard Euler, Lagrange, Gauss, Kummer,
entre outros. O caso foi resolvido pelo próprio Fermat usando o seu método de descida ao infinito.
O
que veremos neste post são algumas pequenas proposições fáceis de
provar e que estão ao alcance de todos. Como este problema é
mundialmente famoso, as vezes aparecem alguns entusiastas com pouco
preparo matemático com uma falsa prova de poucas páginas. Muitos
matemáticos acreditam que Fermat estava errado ao dizer que possuía uma
demonstração maravilhosa para o seu problema.
Proposição 1: Se a expressão
não admitir soluções não-triviais, então a expressão com também não admite.
Demonstração: De fato, suponhamos que admite a terna de inteiros diferentes de e como solução, ou seja, . Sendo , segue que é solução de , o que é um absurdo.
Proposição 2: Se é um natural, então a equação , não possui soluções, onde , e são racionais não-nulos.
Demonstração: Suponhamos que é uma solução da equação . Sendo , e racionais, então
onde e para e são inteiros não-nulos. Assim,
Multiplicando a expressão por , temos
de modo que é uma solução não-trivial da equação , o que é um absurdo.
Proposição 3: Se dois dos três números pode ser dividido por um quarto número , então todos os três números são divísiveis por .
Demonstração: Suponhamos que e sejam divisíveis por , isto é, e . Assim, e . Sendo , segue que . Os outros casos são análogos.
Assim, se , então , e , de modo que
onde a terna possui os elementos dois a dois primos entre si, isto é,
Observação 1: Se é uma solução não-trivial de , então também é.
Observação 2: A terna solução de , onde , e são dois a dois primos entre si é chamada de solução primitiva.
Proposição 4: Em qualquer solução primitiva de , um número é par e os outros dois são ímpares.
Demonstração: Se , e são todos pares, então
contradizendo o fato que é uma solução primitiva. Se todo eles fossem ímpares, então é ímpar, é ímpar e também é ímpar. Desta forma, seria par e a identidade
seria impossível. A alternativa de ter dois números pares e um ímpar
como solução também é impossível. Logo, pelo menos um número deve ser
par e os outros dois devem ser ímpares.
Desde que toda solução da equação de pode ser reduzida a um solução primitiva pela divisão do máximo divisor comum , o Último Teorema de Fermat pode ser provado mostrando que não há soluções primitivas.
Uma consequência interessante da prova do Último Teorema de Fermat é o Corolário seguinte:
Corolário 1: é irracional.
Demonstração: Suponhamos que existem inteiros não-nulos e tal que
ou seja, é uma solução não-trivial do Último Teorema de Fermat. Absurdo!
Referência Bibliográfica:
- Gouvêa, Fernando Q. Em busca da "Demonstração Maravilhosa". RPM, número 15, 1989.
- Troung, Jack. Geometric and Discrete Mathematics.
- Troung, Jack. Geometric and Discrete Mathematics.
Gostará de ler também:
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- O Maior Número Primo Conhecido;
- Coordenadas Racionais na Circunferência de Raio Unitário;
- Dirichlet e os Números Primos de uma Progressão Aritmética (Blog O Baricentro da Mente).
- Ternos Pitagóricos (Blog O Baricentro da Mente).
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