Com esforços voltados para a exploração do petróleo no pré-sal, a Petrobras desistiu dos quatro blocos restantes que detinha para identificação e produção de gás natural na parte mineira da Bacia do Rio São Francisco.
Com isso, a estatal abandona o processo.
Outros três lotes já haviam sido devolvidos pela empresa. Em julho, a anglo-holandesa Shell também desistiu de buscar gás em quatro dos cinco blocos sob seu domínio. A Petra desistiu de outro. Com as recentes devoluções da Petrobras, sem ainda ter sido descoberto gás suficiente para produção comercial, ao todo, 12 blocos foram repassados para o governo federal, o que gera questionamentos sobre a viabilidade econômica do projeto. Outros 31 blocos permanecem com atividade exploratória, segundo o governo federal.
A informação foi confirmada pelo secretário de Petróleo e Gás do Ministério de Minas e Energia, Marco Antonio Martins Almeida, em fórum promovido pelo conglomerado norte-americano Bloomberg, em Belo Horizonte. Ao saber da notícia, a presidente do Instituto de Desenvolvimento Integrado (Indi), Mônica Cordeiro, se mostrou surpresa e, ao pedir a palavra, clamou ao secretário que falasse com o ministro e a presidente da República, Dilma Rousseff, para "não jogar a toalha" em relação ao gás do São Francisco.
Logo depois da apresentação, o secretário refutou a possibilidade de desistir da atividade. "É uma nova fronteira. A gente gera muita expectativa e espera uma resposta rápida", disse Marco Antonio, ressaltando haver um agravamento devido aos resultados do gás de xisto nos Estados Unidos. Ele afirma que, apesar da ansiedade gerada para os primeiros resultados, se trata de uma perfuração complexa. Por se tratar de uma bacia velha, o terreno é extremamente duro. "As empresas que estão lá, com exceção da Shell, estão conhecendo o processo. É natural que isso aconteça. Está na hora de a gente ver alguma coisa que nos dê mais convicção e confiança de que o potencial pode se tornar realidade. Quando você começar a não ter resposta positiva e concreta, começa a haver preocupação", diz.
A devolução dos blocos não quer dizer que inexista gás na região. No caso da exploração do pré-sal no Campo de Libra, tanto Petrobras quanto Shell perfuraram o bloco BS-4 da Bacia de Santos em busca de petróleo e devolveram a área à Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), que, anos depois, contratou a própria Petrobras para seguir na busca e encontrar petróleo sob a camada de sal. Agora, as duas companhias pagaram R$ 9 bilhões em bônus para ter 60% da reserva.
Estratégias
A baixa provocada pela Petrobras enfraquece o programa de pesquisa na região, mas não afeta os programas de exploração de outros investidores. "Cada empresa tem suas estratégias. Nossa expectativa permanece a mesma quanto ao fato de a região ser muito promissora ao negócio", afirma Frederico Macedo, presidente do consórcio Cebasf, pioneiro na descoberta de gás em Morada Nova de Minas e representante do Comitê de Óleo e Gás da Federação das Indústrias do estado (Fiemg). O Cebasf é constituído pela Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig), Orteng Equipamentos e Sistemas, Delp Engenharia e Imetame. O grupo está trabalhando na seleção de fornecedores para iniciar a produção de gás em 2014, ainda que em escala experimental.
A Shell informou, por meio de sua assessoria de imprensa, ter concluído os trabalhos de perfuração de seu primeiro poço aberto em Arinos, no Noroeste de Minas, e partido, agora, para a análise dos resultados. O prefeito de Morada Nova de Minas, Walter Moura, diz que a esperança na região se mantém, com as possibilidades de o gás se transformar em uma nova fonte de riqueza para geração de emprego e renda. "Nosso município vive um momento de valorização de imóveis com as ocorrências de gás", afirma.
Reincidência
A rigor, a Petrobras deixa pela segunda vez as terras mineiras cortadas pelo Velho Chico. A estatal conduziu as primeiras pesquisas atrás de ocorrências de gás natural em Minas em meados dos anos 80, mas abandonou os trabalhos, só retornando no fim de 2010, quando abriu o seu primeiro poço em Brasilândia de Minas.
Estudo encomendado pelo governo mineiro à empresa de consultoria e negócios Gas Energy indicou, no ano passado, que o gás descoberto na porção mineira da Bacia do São Francisco tem potencial para 37 milhões de metros cúbicos por dia.
Procurada, a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico disse não ter informações sobre o assunto. A Petrobras não respondeu à reportagem até o fechamento desta edição.
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